História : Pindamonhangaba nos tempos dos troles e carruagens

Numa época muito anterior aos ônibus, micro-ônibus e outros veículos de menor porte, porém vocacionados ao transporte coletivo de passageiros, deslocar-se de um ponto dentro de Pindamonhangaba ou além do município carecia de se aguentar em montaria. Com o tempo a coisa foi melhorando. Mas as mudanças foram gradativas, passando da montaria aos troles (espécie de carruagem rústica), depois às jardineiras e aos ônibus e demais automotores do gênero.
Houve, obviamente, na evolução do transporte em Pinda, outros meios, como o uso de canoas que desciam o rio Paraíba de São José dos Campos até Lorena. A companhia de navegação a vapor, que surgiu em 1875 com a finalidade de transportar café e outros produtos de Caçapava para Cachoeira Paulista, onde os produtos eram embarcados no trem da Estrada de Ferro D. Pedro II, com destino ao Rio de Janeiro (a linha férrea vinda do Rio só chegava até Cachoeira).
Depois, em 1877, com a ligação de São Paulo ao Rio pela estrada de ferro, passando por Pindamonhangaba, o trem surgiu como moderno e eficiente meio de transporte para mercadorias e passageiros. Não desmerecendo a importância das marias-fumaça e barcaças, sendo o tema desta edição o meio de transporte terrestre, foram, depois das montarias, os troles e veículos similares o principal meio de locomoção, tanto no espaço urbano como nas viagens além das divisas de Pinda.
No tempo das
carruagens
Em O Visconde da Palmeira e a Cidade Imperial (JAC-Gráfica e Editora, São José dos Campos/SP, ano 2000), Maurício Marcondes conta que em 1876 havia um serviço regular de “trollys” (assim era grafado) que ia de Taubaté até Cachoeira Paulista, passando por Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Lorena. O autor ressalta a importância da linha ter como ponto final Cachoeira, “pois de lá seguia-se para a corte (Rio de Janeiro) já pela ferrovia”.
Da edição de 2/1/1876 do jornal “Pindamonhangabense”, Marcondes destaca um anúncio publicado pela referida linha de troles, de propriedade de Ribeiro & Gonçalves. No anúncio são divulgados os preços das passagens dependendo da cidade de destino e tendo como ponto de partida Taubaté. Também é feita referência aos cocheiros dos troles os qualificando “como os mais antigos e bastante conhecidos”.
Uma companhia de transportes que em 1886 trabalhava no percurso Pinda/Campos do Jordão é citada por Ebe Reale em Pindamonhangaba: Cidade do Segundo Reinado (USP-São Paulo, 1970). Conforme pesquisa da autora na edição de 29/10/1886 do jornal Tribuna do Norte, tal companhia se propunha a “fornecer conduções desta cidade até a raiz da serra de trole, e de lá até os Campos do Jordão, em bons animais de sela”.
Pagava-se um valor para ir de trole de Pinda ao pé da serra da Mantiqueira e de lá pagava-se para completar a viagem até Campos em animais de sela. A companhia também dispunha do serviço de liteiras (espécie de padiola coberta, conduzida por dois animais, geralmente bestas), muito utilizado no transporte de idosos e doentes até Campos. Em 1914 com o surgimento da Estrada de Ferro Campos do Jordão esse serviço foi extinto.
Para Marcondes, as linhas de trole equivaliam às diligências norte-americanas, que passamos a conhecer nos filmes de faroeste. Havia também grande número de ‘carros particulares’, diz o autor referindo-se aos troles, semitroles e caleças pertencentes aos cidadãos mais abastados da época. “Esses veículos eram puxados por um, dois e até quatro animais, seus tamanhos eram variados desde o mais simples e abertos até os maiores, fechados e luxuosos”, explica.
Havia também os troles de passeio. Na edição do Pindamonhangabense de 15/3/1876, Francisco Antonio de Toledo anuncia o aluguel de um com espaço para três pessoas e em condições de realizar passeios dentro da cidade e também até três léguas do centro urbano. Edições da Tribuna do Norte do final do século XIX registram serviços especiais de trole durante as tradicionais festas de Santa Ana (bairro de Santana, que se chamava Alto do Barranco) e do Bom Jesus, em Tremembé.
Naqueles tempos o trânsito nas ruas de Pinda, na cidade, nas estradas rurais e até naquelas que demandavam a outros municípios, era feito por montarias e veículos de tração animal. Daí a importância que se dava à conservação das estradas e pontes. O estado precário destas e as melhorias reivindicadas, eram assuntos constantes nas reuniões da Câmara Municipal.
Com o aparecimento do veículo automotor e seu posterior aperfeiçoamento, inclusive para o transporte coletivo, a utilização de veículos de tração animal não teve mais razão de existir. O acontecimento só não foi favorável àqueles cuja atividade profissional era ligada à existência de troles e similares, como os fabricantes. No entanto, continuaram a existir as charretes, que faziam o serviço de táxi, conduzindo passageiros aos bairros, e as carroças, utilizadas no transporte de cargas. Charreteiros e carroceiros possuíam ponto no centro da cidade.

Imagens: Arquivo TN
  • No início era no lombo da montaria que o homem se transportava...
  • ...e transportava aquilo que precisava, ligando as vilas e os mais distantes povoados
  • ...e transportava aquilo que precisava, ligando as vilas e os mais distantes povoados