Vanguarda Literária : IDEIA DE HUMANIDADE
Muitos estudiosos afirmam que as ideias assemelham-se aos seres vivos: nascem desenvolvem-se, mas, ao contrário destes, estão livres da terrível lei da morte. Prosseguem sua vida própria, indubitavelmente mais duradoura e mais marcante do que a nossa que é tão efêmera. Se, como afirmou o sábio grego Platão, seguidor de Sócrates, forem imperecíveis, não ficam no terreno da fantasia, mas, são reais. Ideias reais que pertencem a dois domínios: ao reino invisível do espírito e ao reino visível e palpável da realidade do mundo terreno, tendo, portanto, a obrigação de mergulhar nas raízes dele, convertendo-se ao homem e para o homem, em movimento peculiar, em força que molda a realidade e, mudam de acordo com os ideais alimentados. Os ideais podem, muitas vezes, desaparecer durante um tempo da órbita virtual dos homens e, reaparecerem mais tarde, cheios de vigor, carregados de força rejuvenescedora e transformadora.
Parece-me que é o que acontece com a ideia de HUMANIDADE. Convém lembrar que, se hoje penetrou no tablado da realidade terrena, ou seja, na história dos povos e das nações, já foi, há séculos, percebida de maneira eficaz pelo povo grego e apropriada pela garra de Roma dominadora e imperialista. Portanto, perguntamos: qual o significado de HUMANIDADE? O vocábulo inicialmente nos conduz a um significado inicial: o homem enquanto homem envolvido efetivamente na concretude ambiental, e, outro secundário: tornar o homem em homem, ou seja: humanizá-lo num sentido dinâmico, não só o homem enquanto é, mas, no que realmente deveria ser.
No templo de Delfos (Grécia) está escrito: “Conhece-te a ti mesmo”, que é um convite a nos tornarmos cônscios da limitação, da mortalidade, em oposição à sabedoria, ao poder, e à falsa ideia de imortalidade. Remetendo-nos à racionalização, joga-nos no exercício espiritual-ético, ao pensarmos o mundo e a vida, e, mediante a ação, ordenar, com sensatez, os fenômenos do viver. Um dos papéis do HOMEM-HUMANIDADE, afirmou Spinoza, filósofo holandês do século XVII, fundador do criticismo bíblico moderno, “É conhecer-se, e, acima de tudo, compreender os outros homens tais como se develam, se manifestam”.
O humanista autêntico deve estar atento à conhecida sentença de Terêncio, dramaturgo e poeta romano do século II: “Homo sum, humani nihil a me alienum puto”- “Sou humano e não me coloco alheio ao que é humano”-. Esta frase carrega consigo, de maneira ampla, o conteúdo daquilo que poderíamos denominar como atenção e simpatia para com os outros, e, mais do isto: cuidado, preocupação intensa, longe das riquezas, discriminações, fraquezas morais e outras prerrogativas do homem. Torna-se imperioso a todos nós ampliar esses horizontes de compreensão a outros grupos humanos integrados por Estados, povos, raças e religiões. Portanto, a idéia de HUMANIDADE é extremamente ampla, não sendo dogmática-religiosa, nem pragmatismo político, abarcando um número incontável de fatos, de acontecimentos inerentes ao homem-complexo, afirmando o mundo e a vida com todos os seus contrastes.Incita-nos, em última análise,à reflexão sobre nós mesmo,a “cuidar da ruas,mas erguer os olhos para o firmamento”.