Vanguarda Literária : CONVERSANDO COM MEU MESTRE PITOMBEIRA
No principiar de uma manhã de inverno, chega aqui em Santa Catarina, a notícia que mexeu com todas as minhas emoções: O Mestre Pitombeira, minha mais importante referência intelectual e espiritual encantou-se.
Dizer da importância do seu trabalho beneditino em prol da Educação e da Igreja no Ceará, e, em especial, na nossa amada Limoeiro do Norte é uma tarefa gigantesca, nobre e difícil, praticamente impossível ,que consumirá tempo e textos em profusão. Optei por conversar consigo, Mestre Querido, no silêncio da noite, quando a cidade dormita e a maldade e a ambição humanas descansam. Você, Mestre Pitombeira, acumulou riquezas, embora fosse um despojado de bens materiais: a prata do nosso reconhecimento e o ouro da nossa gratidão que atravessarão tempo e espaço!
O grande educador Anísio Teixeira dizia que o Mestre verdadeiro encontra-se presente em todos os momentos decisivos dos seus alunos/ discípulos, seja de corpo presente ou com a luz forte do seu espírito. E não foi isso o que aconteceu conosco, Padre Pitombeira, você sempre tornando o meu caminho mais suave e menos pedregoso? Você, Mestre, pegou-me pelas mãos, no verdor dos meus anos, e me apresentou o fantástico mundo do Magistério que tanto amo, lá no nosso Colégio Diocesano Padre Anchieta. Lá no seu templo, onde você fez “ jorrar da sua boca, numa torrente azul de água barroca, um cardume de santos e de sábios” como bem expressou o louvado Poeta conterrâneo, Tárcio Pinheiro, seu ex-aluno e discípulo ,na antológica “Sonata para o Padre Pitombeira”. Em cada conquista, desde a minha graduação em Medicina, e minha carreira de quarenta anos no Magistério Superior, seu espírito vibrante, estava alí, estimulando, orientando, mostrando-me possibilidades. Ah, meu Mestre, deixe-me falar de uma frustração, que ora confesso, nesse momento que que as nossas almas se escutam e que envolveu a sua pessoa( calma, você não teve culpa!): não ter sido seu aluno de francês. Naquele famigerado ano de 1964, uma reforma curricular retirou o francês do Ginasial.
Tempos depois, precisei do francês para cursar a Pós-Graduação .Senti a sua voz estimuladora me dizer: Vai em frente. Você vai conseguir!”. E, não é Mestre, que essa língua me garantiu a única vaga de Doutorado na minha Área de Pesquisa na Universidade de São Paulo? Em sinal, de gratidão, como autodidata,estudo , todos os dias, essa língua maravilhosa e tenho a estranha sensação de tê-lo ao meu lado.
Não há como esquecer o nosso último encontro no Diocesano em data festiva. Ao autografar o seu livro para mim, e, eu agradecer por tudo quanto fez por mim, minha família, por todos os jovens limoeirenses, você me disse: “Tudo isso que você falou me deu a sensação de que, na vida, não fui de todo um inútil!”.Pelo amor de Deus, meu Mestre, acho que você não pensou que eu tenho coronárias! Ah, deixe eu lhe confessar a última coisa: eu sempre me interroguei como você se entendia na sua escrivaninha repleta ,com aquele amontoado de livros, revistas, recortes de jornais ,pois, às vezes, nem dava para o enxergar atrás deles, mas, você sabia onde estava qualquer informação importante. Não é que sou igualzinho a você nesse particular?Diariamente me afogo num mar de livros e papéis que nunca consigo arrumar!
E, foi esse o nosso destino, meu eterno Mestre:estamos sempre nos reencontrando. Agora , você está num plano celestial de muita paz e luz. Sei que não se esquecerá da gente, dos seus ex-alunos, discípulos e de quem amou. Tenha certeza de que é aquela estrela que mais brilha no nosso céu existencial. E, nem venha dizer, com sua sinceridade e simplicidade que estou exagerando. Até um reencontro, Padre. Siga seu caminho com paz de criança dormindo e as flores indestrutíveis da nossa infinda saudade !Com toda certeza:
Jamais será Grande Ausente,
a minhàlma o bendiz!
Pitombeira está presente
nos versos que a gente diz!