Lembranças Literárias : Glória

Que importa a mim o louro do renome,
ter aureolada a fronte encanecida.
Bem pouco vale o que nos vale a vida,
se pelo tempo tudo finda e some.
Que importa a imortalização do nome
no pétreo fuste em letras esculpida…
É tão rara uma glória merecida,
que depressa entre as outras se consome.
Que o ideal o Nada… Pelo Nada anseio!
Por isso, aguardo o derradeiro seio,
onde o meu corpo se reverta ao pó.
Gravem, querendo, sobre a sepultura:
– Teve por glória a própria desventura,
a dor suprema de ter sido só.

Jercy Jacob (do livro ‘Missal dos Sonhos’), Tribuna do Norte, 31 de março de 1963