História : A importância do relógio da matriz
Mau funcionamento atrapalhava os moradores que se orientavam pelo velho relógio da igreja no cumprimento de seus compromissos profissionais e sociais
A página de história desta edição relembra a bucólica Pindamonhangaba dos anos 30 trazendo um tema algo poético: o relógio da igreja matriz, atual Santuário Mariano. A importância que ele tinha para a população, independentemente de sua preferência ou fé religiosa.
É da edição de 26/3/1933 do jornal Tribuna do Norte a notícia que muita gente andava incomodada com o mau funcionamento daquele instrumento mecânico instalado no alto da igreja, cujo compromisso de orientar os moradores, informando-lhes as horas, andava a desejar.
Atendendo aos pedidos dos leitores, o artigo da Tribuna iniciava comentando que não pretendia “ferir susceptibilidades”, apenas registrar em suas colunas o pedido de várias pessoas, referente ao funcionamento insatisfatório do relógio da matriz.
“De uns tempos a esta parte ele tem sofrido adiantamentos e atrasos consequentes, não sabemos bem, se de um mau funcionamento ou se resultante da peraltice de alguma criança, que acarretam aborrecimentos e atrapalhações, como sejam: nos horários dos ônibus, nos embarques da Central; início dos trabalhos escolares do Grupo, da Normal, do ginásio etc.”
Segundo o articulista da Tribuna, o jornal não se manifestaria “se o povo não tivesse arraigado o hábito de marcar o seu tempo pelo tradicional relógio”.
Solicitando providências a quem de direito, o jornal ironizava: “Se ele marca o tempo fora do tempo, parando ou correndo, nós estaremos sempre, correndo ou parando, sem nunca chegarmos a tempo, o que causa um grande contratempo”.
A resposta do padre João
Na edição seguinte, a de 2/4/33, o jornal recebeu uma carta daquele “a quem de direito” cabia responder: o pároco de Nossa Senhora do Bom Sucesso, reverendo João José de Azevedo.
Respondia o padre:“Agradeço de alma a reclamação à redação desta folha, a reclamação delicada e alvitre proposto acerca das irregularidades do relógio da matriz”.
Demonstrando concordar com a queixa do povo, o pároco explicava: “Realmente, tal representa grave transtorno no meio social, ferindo os interesses do comércio, dos operários, dos lares etc. No entanto, é bem que se anistie o velho relógio da torre, quando se o considera marcando ali as horas de Pindamonhangaba há quase um século”.
Argumentando-se com segurança ele prosseguiu, lembrando a população de fatos recentes relacionados ao assunto:
“Quando por ocasião da inauguração da capela-mor de nossa matriz e restauração da mesma, foi feito um apelo à Câmara de então, pedindo, entre outros favores um novo regulador público para a nossa matriz, marcando horas, ½ horas e quartos de hora, com 2 mostradores luminosos, no preço de 8:000$000. Infelizmente, apesar da boa vontade dos que então dirigiam o município, dos quais a bem da justiça é bom revelar, que muitos favores foram feitos às obras, à igreja no tocante ao relógio nada se conseguiu”.
Aproveitava o padre João a nota na Tribuna, para dirigir um apelo à municipalidade no sentido que ela presenteasse os munícipes com um novo relógio, levando-se em conta que:
“Sendo bem público o relógio da torre, interesse geral, certamente o ilustre Departamento de Administração Municipal de São Paulo não se oporá a realização de tal favor da Câmara à cidade. E o senhor prefeito a quem, a bem da verdade e da justiça muitos favores já deve a nossa matriz, certamente, nos favorecera, com a atenção a este apelo que ora lhe faço destas colunas. Será colocado novo regulador na torre da matriz, de horas, ½ horas e quartos de horas com dois mostradores luminosos”. (Departamento Municipal de São Paulo era o órgão do governo estadual responsável pelo atendimento aos municípios interioranos).
E concluía destacando o destino que seria dado ao antigo relógio:
“O atual regulador impertinente, consertado, será colocado na igreja de São Benedito, o milagroso santo, a cuja tutela coloco meu desideratum e meu apelo.
Padre João José de Azevedo.”