Editorial : Cada vez mais cedo
O resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) divulgado pelo Ministério da Educação nesta quarta-feira (18) poderá mudar a vida de muita gente. Aguardadas pelos mais de 6 milhões que realizaram a prova em 2016, segundo informações do MEC, as notas podem ser usadas para disputar vagas no ensino superior público pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificado), bolsas no ensino superior privado pelo ProUni (Programa Universidade para Todos) e para participar do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Para candidatos com mais de 18 anos, o Enem também pode ser usado para a certificação do Ensino Médio.
Criado em 1998, com o objetivo de avaliar o conhecimento dos estudantes que concluíram o Ensino Médio, o Enem é visto hoje como a maior prova do país e, para o ministro da Educação, Mendonça Filho, “é uma conquista para os que participam, já que é considerado um patrimônio de todo o Brasil”.
Entre críticas e elogios, o exame já passou por diversas remodelações, mas para alguns especialistas, ainda há muito para ser feito. Mesmo reconhecendo que a prova permite o acesso ao Ensino Superior, educadores ressaltam que o modelo precisa passar por mais modificações até se adequar à realidade da maioria dos candidatos.
Como os jovens estão entrando cada vez mais cedo nas universidades, até em virtude desses acessos, a dificuldade de adaptação, a ansiedade por não saberem se estão no curso certo e a mudança para longe da família, contribuem para desgastes e até mesmo quadros de estresse.
A idade média dos matriculados que entraram pelo Sistema de Seleção Unificado é de 21 anos, mas a grande maioria tem entre 17 e 18 anos. Esta fase, que está entre o fim da adolescência e o início da vida adulta, traz por si só vários dilemas.
O próprio tema da redação do Enem 2016 “Intolerância Religiosa no Brasil” pegou muitos jovens de surpresa. Alguns, acostumados com as discussões na internet, tiraram de letra. Já para outros, faltou argumento e bagagem.
Na verdade, quando se fala em bagagem cultural, envolvimento social e atividades extracurriculares – cobrados por outros países para o ingresso nas universidades – no Brasil há um grande déficit. Uma das causas pode ser a necessidade de muitos jovens de estudarem, de trabalharem e de cuidarem de atividades domésticas em paralelo à universidade. Pelo visto, não é só o Enem que precisa de remodelação.