Nossa Terra Nossa Gente : LUIZ SALGADO RIBEIRO E O SEU OFÍCIO DE “JUNTAR LETRINHAS”
Volto-me para a figura admirável do jornalista e escritor pindamonhangabense Luiz Salgado Ribeiro e indago: de onde vem sua habilidade de “juntar letrinhas” e de nos encantar com cada linha que escreve?
Colecionadora de boas estórias e estudiosa de história de vida e memória, fui incentivada a coletar informações na fonte: conversando com as pessoas, ouvindo suas vozes, desvelando seus sonhos, lendo o que escrevem com canetas mágicas e que o tempo jamais será capaz de apagar. Foi desse modo que iniciei meu namoro com os escritos do renomado jornalista da Gazeta, do Estadão, da Folha de São Paulo, do Jornal da Tarde no livro de sua autoria “Andanças: histórias de um jornalista à moda antiga” (Primavera Editorial, 2010). De letrinha em letrinha, de linha em linha, o mosaico de sua vida foi sendo tecido, e, sem que eu me desse conta, a sua escrita era a mestra invisível dos meus primeiros ensaios no jornalismo.
Dizia minha avó que “até as pedras dos rios se encontram” e, por sorte minha, em 2015, estávamos nós, Luiz e eu, encarregados de um projeto de parceria da Academia Pindamonhangabense de Letras com a Escola Ryoiti Yassuda. Tive o privilégio de transportar o amigo e confrade para dar dicas de redação aos alunos do 3º Ano do Ensino Médio e, no decurso de um semestre, fui aprendendo sua arte de “juntar letrinhas”.
Das histórias que dele ouvi e li, posso afirmar que três pessoas colaboraram significativamente para a formação do jornalista de grande envergadura que Luiz Salgado Ribeiro tornou-se: Júlia San Martin, sua professora do Primário; Manoel César Ribeiro, seu pai; e, Eloyna Salgado, sua mãe.
As “composições” solicitadas por D. Júlia permitiram que o menino Luiz desse asas à imaginação (primeira lição imprescindível ao escritor) e, a partir de uma gravura, redigisse textos elogiadíssimos pela mestra, fato que incentivou suas primeiras reinações no mundo da escrita.
Como era um menino muito sem sossego, seu pai, Mané Ribeiro, encontrou um jeito de acalmá-lo: por onde ia, sempre o levava de carona em sua caminhonete. Talvez venha daí a segunda lição apreendida pelo menino jornalista: ouvir boas histórias e ter um feeling apurado de política.
Da mãe, Eloyna Salgado, escritora de renome no cenário pindamonhangabense dos anos de 1950 e subsequentes, certamente herdou o talento para a escrita e, de modo especial, da reescrita, esta arte de lapidar frases e palavras até obter-se um texto que transmita sua mensagem com clareza e elegância (terceira lição).
Nas páginas de seu Facebook (Luiz Salgado Ribeiro) curto seus posts sobre política, histórias de suas atuais andanças (como sempre, extraordinárias!) e lembranças que ele tem garimpado de suas memórias. Esses seus escritos foram compilados e reunidos na obra “Aos meus netos” (Fala Escrita, 2018), com uma tiragem digna do Livro dos Recordes – 5 exemplares! -, e autografados aos seus filhos, Luiz Eduardo e Suzana, e aos seus netos, João, Gabriel e Gustavo. Pelas mãos de Suzana, tive acesso a essa preciosidade. Nessa obra, seu ofício de “juntar letrinhas” se eterniza: conta histórias de sua vida pessoal e profissional, dos passeios familiares e deixa aos netos conselhos e dicas de redação.
Assim, aquele menino nascido em 1944, que trabalhou nos maiores jornais do País e tem muita história para contar aos meninos do século 21, encontra na escrita memorialística a porta sempre aberta para novas aventuras… Salve, salve o menino irrequieto, inteligente e imaginativo que fez de seu ofício de jornalista sua arte de bem viver!
P.S.: Em abril de 2022, infelizmente, nosso estimado amigo faleceu…