História : Curiosidades da igreja matriz
Artigo publicado em jornal local há 82 anos, revela doações que enriqueceram o patrimônio paroquial da então Igreja Matriz e cita pindamonhangabense que foi o único brasileiro a vestir a farda dos Exércitos Pontifícios e combater ao lado do Papa Pio IX, em 1870.
Com o título “Grandiosas Dádivas à nossa Matriz”, em 1935, o jornal local A Cidade (extinto), edição de 9 de junho daquele ano, dava a notícia que o patrimônio paroquial pio e artístico da igreja matriz tinha sido enriquecido com duas grandes dádivas: um novo altar em honra ao Sagrado Coração de Jesus e uma relíquia do Santo Lenho, ambos doação da pindamonhangabense dona Gabriella de Barros Lessa.
Sobre o novo altar o referido jornal divulgava que este havia sido confeccionado em São Paulo, “na conhecida casa de arte sacra Marino Del Tavero, pela quantia de dez contos de réis”. Benzido e inaugurado na nave direita da Capela Mor da Matriz o novo altar era descrito como sendo “em madeira de lei, imitação magnífica de mármore, altos relevos, esculturas de elevado gosto, inclusive um grupo representativo da S.S. Trindade a encimá-lo e um da morte de São José sob a banqueta, expositório lindíssimo, tabernáculo a cuja porta ostenta artístico relevo de Jesus no Horto”.
“A imagem do Sagrado Coração de Jesus da nossa matriz, juntamente com a do Coração de Maria, em porte natural, são das primeiras que apareceram no Brasil, tendo sido adquiridas na Bélgica e ofertadas a nossa paróquia pelo saudoso esposo de dona Gabriella de Barros, o comendador Henrique Dantas da Gama a cuja piedade e zelo se deve o início do culto do Sagrado Coração de Jesus em Pindamonhangaba”, revelava outro parágrafo do artigo.
Na mesma página, referindo-se ao Santo Lenho, o autor da matéria (não está assinada) faz referência a origem da relíquia doada à igreja matriz.
“Quando, em 1870, as numerosas hostes, chefiadas por Garibaldi, atacavam os estados pontifícios no afã de tomar Roma e espoliar a Santa Sé de seus domínios temporais, o pindamonhangabense João Antonio Dantas da Gama, cunhado de dona Gabriella de Barros, dotado de um grande espírito religioso e extraordinário amor à Santa Igreja, então estudante da Universidade de Paris, abandona os livros e corre pressuroso a Roma, onde se alista entre os zuavos pontifícios. Envergando-lhes a farda dignificante, combate ao lado do Santo Padre Pio IX na defesa dos direitos da Santa Igreja. Dá-se a tomada de Roma aos 20 de setembro de 1870, a célebre brecha da Porta-Pia, consequente prisão do Sumo Pontífice, enquanto, de joelhos, com o Santo Rosário entre as mãos, deixavam as armas à espera de aprisionamento, os defensores do Santo Padre.”
“O dr. João Antonio Dantas da Gama, filho desta terra, fora o único brasileiro nos Exércitos Pontifícios. Grande honra, extraordinário privilégio desta velha Pindamonhangaba.
“O Sumo Pontífice Pio IX, ao despedir-se do zuavo brasileiro, o pindamonhangabense dr. Dantas da Gama, abraça-o enternecido, abençoa-o e à sua descendência ofertando-lhe, com suas próprias mãos, a preciosa relíquia do Santo Lenho, que consiste numa partícula da verdadeira cruz sobre a qual morreu o Redentor Divino! Chegado ao Brasil, o detentor da preciosa relíquia mandou-a colocar em artístico relicário de prata em que se esculpiram todos os emblemas da paixão, oferecendo a mesma a sua família na pessoa do comendador Henrique Dantas da Gama, esposo de dona Gabriella de Barros.
“O dr. João Antonio, entretanto, distribuindo seus bens aos pobres retira-se ao Convento dos Jesuítas do Rio de Janeiro, de onde é enviado à Bélgica e professando naquela emérita ordem, ordenado sacerdote, serviu ao Senhor como grande pregador sacro e escritor…”
Conta ainda o articulista de A Cidade no citado artigo, que no dia 7 de maio daquele ano de 1935, “primeira sexta-feira do mês do Sagrado Coração de Jesus, as irmandades paroquiais e fiéis, com distintivos e estandartes” tinham ido até a residência de dona Gabriella pela manhã e dali transportaram para a matriz “a preciosa relíquia nas mãos do vigário padre João José de Azevedo”.
Concluindo, consta que “à inauguração do belo altar e trasladação da preciosa relíquia assistiram todos os filhos de dona Gabriella de Barros Lessa, vindos do Rio e São Paulo para tais atos.”