Lembranças Literárias : A Alma

Andava tranquilamente pelo florido jardim
contemplando as estrelas tão serenas,
jorrando luzes brilhantes no imenso céu,
quando uma bela e apetitosa jovem
de branco passou por mim.
Ela, loura de olhos verdes, ofuscava
as próprias estrelas.
Seu corpo sinuoso, sensual,
voluptuoso e garrido,
fremeria de prazer e desejo
o mais sincero dos maridos.
Ela passou e olhou…
Eu uma piscadela lhe dei,
ela consentiu, e a seu lado saltei.
Passeamos longamente e já antegozava
uma noite cheia de amor
com aquela deusa que exalava
perfume da mais bela flor.
As horas se escoavam rapidamente.
Um vento forte nas árvores batia e gemia,
enquanto ela em direção do cemitério
caminhava…
Era o que eu queria.
Tão inebriado fiquei
que não percebi ela pela
porta do cemitério entrar…
Pensei que fosse sua casa
e também entrei…
O sino da igreja, meia-noite batia,
e o vento sempre forte rugia.
Eu, segurando as mãos da jovem,
notei que elas estavam geladas,
sua face tão bela parecia deformada.
Em lugar de seus olhos de esmeraldas,
de seus lábios de carmim,
vi uma tétrica caveira
que se agarrava em mim…
Recuei estarrecido
e cai sem sentido…
Noutro dia, encontrando-me
sobre um túmulo desmaiado,
o pobre coveiro ficou atordoado.
Quando me levantei,
tinha nas mãos, partes
de um esqueleto imundo…
Desejei aquela jovem
sem saber que ela…
pertencia ao outro mundo…