CONSULTA MÉDICA
O geriatra chegou da capital e transformou em consultório o pequeno imóvel que locara. Mais rápido do que notícia ruim, sua fama se espalhou pela cidadezinha. Onde houvesse grupinho de mulheres, comentários sobre ele eram alongados. Diziam que era atencioso, educado, lindo, cheiroso e gostoso. Em pouco tempo a clientela triplicou, fato que o obrigou a oferecer vaga para secretária.
O consultório vivia cheio, principalmente de adolescentes. Aspirando ao emprego? Não. Para ver o “lindo doutor” que, entre uma consulta e outra, asseverava: “Não sou pediatra”. Mas sempre havia alguma “espertinha” que apontava para qualquer paciente e dizia: “Sou neta daquele (ou daquela) ali”. A farsa era destruída com um “Nunca vi mais gorda. ”
Certo dia, apareceu por lá uma senhora com cheiro de naftalina.
– Seu nome, por favor?
– Felismina Preocácia. Mas pode me chamar de Fefê.
– Idade.
Ela fez que não ouviu. Ele insistiu.
– Tenho que dizer mesmo, doutor?
– Sim. Tudo o que me disser não sairá deste consultório.
– Setenta… setenta e…Ah, deixa setenta mesmo.
– Tem diabetes? Pressão alta? Sofreu alguma cirurgia? Sente dores?
– Não senhor.
– A senhora toma algum medicamento?
– Não senhor.
Aferiu a pressão arterial.
– 13 x 9. Pressão de mocinha. Parabéns, Dona Fefê.
Naquele instante, o telefone do consultório tocou. Antes de atender, apontou para a maca e ordenou:
– Por favor, tire o vestido e se deite na maca.
Ficou de costas para que ela não se constrangesse. Assim que desligou o telefone, foi examiná-la.
– Era para tirar apenas o vestido, Dona Fefê. Apenas o vestido!
Após apalpar minúcias flácidas e rugosas, constatou:
– Dona Fefê, a senhora tem uma saúde de ferro.
– Eu sei, doutor.
– Sabe? Então, por que me procurou?
– Ah… Vim por causa da vaga de secretária.
– E por que não me disse desde o início?
– Ah, doutor… Esses seus olhos… Essa sua voz… Quando começou a falar comigo, foi me dando uma coisa aqui embaixo, uma quentura…
– Dona Felismina, contenha-se, por favor.
Ela se vestiu e, antes de deixar o consultório, perguntou:
– Doutor, posso vir amanhã pro senhor me apalpar, quer dizer, me examinar outra vez?