PROIBIDO PARA MENORES
O casal de idosos vivia a maior parte do tempo na sala de estar. Ela interrompia o tricô apenas para assistir às novelas. Ele não perdia telejornais e futebol. Nos intervalos trocavam farpas.
– Ô, múmia! Cuidado onde deixa essa agulha. Ainda me dói o glúteo.
– Múmia é a sua mãe! Já falei para você operar a catarata. Mas você me ouve? Você é mais teimoso do que uma mula.
O bate-boca evoluía, e só não chegava a vias de fato porque ambos tinham um adversário em comum: o reumatismo.
Certo dia, a mulher adoeceu. Precisou ser internada às pressas. Ficou morre não morre. Diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida o marido passou a desfiar rosários. Prometeu que, se não enviuvasse, deixaria de ser belicoso. Ela não morreu. Assim que deixou o hospital foi recebida com um convite.
– Semana que vem é nosso aniversário de casamento. Trate de ficar bem. Vou levar você ao cinema.
E, após maliciosa piscadela, arrematou:
– Assistiremos a um filme erótico.
– Erótico? Erótico?
A senhorinha dava pancadinhas na cabeça para que a memória resgatasse o significado daquela palavra.
– Erótico? Lembrei! Nossa! Já faz tanto tempo… Ai, ai, ai, ai, ai!
A euforia causou arritmia na mulher, mas fez com que se restabelecesse antes do dia festivo.
Na noite das bodas foram ao cinema, equilibrados em bengalas. Espremendo os olhos no bilhete para identificar o número da sala, o velho empurrou a porta com muita dificuldade.
– Não tem ninguém aqui – observou ela.
– Chegamos cedo demais. Podemos namorar um pouco.
A velha ficou tão assanhada com a sugestão que tentou beijá-lo. A dentadura frouxa pulou para debaixo das poltronas. Decidiram usar as bengalas para a varredura do piso. O velho, numa tentativa mais ousada, esticou excessivamente o braço e perdeu o equilíbrio. Bateu a cabeça e entonteceu. A velha se desesperou. Depois do quinto grito, apareceu o rapaz com lanterna na mão.
– O que houve, senhora?
Ela explicou e pediu que trouxesse um copo d’água. O rapaz trouxe.
– Por que entraram aqui? Quem os autorizou?
– Viemos assistir ao filme… erótico – revelou o velho.
– Erótico? Não há filme erótico. E esta sala está desativada.
O velho refutou, mostrando os bilhetes.
– Bananas de Pijama? É um filme infantil e na outra sala. Que mente poluída, senhor!
O casal de velhinhos foi embora. Talvez a única coisa erótica naquela noite fora a bengala que subia e descia para atingir a cabeça do velho.