História : Quando Dom Pedro II se hospedou em Pindamonhangaba
A página de história de hoje relembra a estada de D. Pedro II em Pindamonhangaba. De acordo com as lembranças do poeta e escritor Balthazar de Godoy Moreira (1898/1969), em uma série de crônicas publicadas por ele em 1963 neste jornal, não era raro encontrar “por aí”, se referindo a municípios brasileiros, um velho sobrado, um casarão antigo, que “dissessem” haver hospedado o imperador. E ironiza lembrando que por conta da dimensão do país e dos meios de locomoção precários da época, provavelmente D. Pedro nunca estivera em tais cidades, pois era impossível fazer tantas viagens. No entanto, em Pinda estivera de fato. Estivera com a família e uma grande comitiva ao qual se juntara o presidente da Província, ou seja, o governador de Estado, no caso, o do Rio de Janeiro.
Destacando que o livro de Athayde Marcondes, referindo-se à indispensável obra Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos, descreve com minúcias a tal visita imperial, atenta para um fato relacionado ao histórico assunto: “Acrescento ao relato apenas uma nota pitoresca. O meu tio Miguel Antonio, fazendeiro de Piedade, era parecidíssimo com D. Pedro II, a mesma altura, o mesmo corpo, os mesmos olhos claros e as mesmas barbas. Um dos sósias do monarca, dos mais perfeitos. E gostava de pândega, de fazer pagode, dizia meu pai.”
Prosseguindo, Balthazar relembra o que ouvira do pai sobre aquilo que se passara com relação ao seu tio na visita de Pedro II a Pindamonhangaba: “E assim, enquanto o imperador estava à mesa do banquete e mais tarde, dando recepção aos maiorais da terra, no salão (nunca vi em Pinda tantas sobrecassacas e balões, me contava papai que esteve presente ) instigado pelos moços. Tio Miguel saia à sacada. A banda rompia num dobrado ou no Hino Nacional, rojões espoucavam e reboavam as aclamações que ele agradecia, com compostura de rei.
Na manhã seguinte, a caminho da igreja, o imperador olhava de vez em quando de soslaio , para o sósia.”
Segundo nota publicada no Diário do Norte, edição de 12/9/1877, D. Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina quando estiveram nesta cidade ficaram hospedados no palacete do visconde de Pindamonhangaba, Francisco Marcondes Homem de Mello. Essa visita se deu no dia 10 de setembro de 1877. Esse palacete era um casarão que existiu na praça Padre João de Faria Fialho, Largo do Quartel.
Antes de Pedro II, conta-nos Athayde em sua oportuna obra, a filha do imperador, princesa Isabel e o marido, Gastão de Orleans e Bragança, conde D’Eu, já haviam se hospedado em Pinda, no dia 14 de dezembro de 1868.
Sobre esse outro fato histórico, Balthazar lembra: “O livro tão bem informado de Athayde Marcondes não menciona, mas o esposo da princesa Isabel esteve uma outra vez em Pindamonhangaba, em 187.. de passagem para os Campos, hospedando-se na fazenda de meu pai. Penso que não seria nada demais restabelecer na praça o antigo nome, Praça Princesa Imperial, ou Praça Princesa Isabel, agora que o nome está cercado de um halo de glória. Podiam então chamar ‘15 de Novembro’ a uma das novas ruas nos bairros novos.”
Sobre este parágrafo tornam-se necessários os seguintes esclarecimentos: o autor não completa o ano em que Isabel e o conde estiveram por aqui pela segunda vez, a grafia 187.. é dele mesmo. Quando diz “…passagem para os Campos”, refere-se a Campos do Jordão. Quando sugere o antigo nome homenageando a princesa Isabel para o logradouro, atualmente praça Padre João de Faria Fialho, o local era denominado Praça da República, mudança ocorrida devido à queda da Monarquia.
Recorremos ao seu livro “…E os Campos do Jordão foram Pindamonhangaba”, editado em 1969, em São Paulo, pela Sociedade dos Amigos de Pindamonhangaba, e, percorrendo o índice da referida obra, encontramos no capítulo XIII, “A Graminha e Guarda hospedam o Conde D’Eu”, relatos sobre a mencionada visita do conde D’Eu à casa de seu pai.
Conta Balthazar que um amigo do Rio de Janeiro havia avisado a seu pai que o conde D’Eu, “ouvindo maravilhas a respeito dos Campos, de sua beleza e de seu clima retemperador de forças, manifesta o desejo de conhecê-lo”. O tal amigo havia então o convidado para a visita em nome do pai de Balthazar.
Para hospedá-lo, o anfitrião promoveu melhorias no local. Providenciou o forro da casa com madeira dos pinheiros do lugar, fizeram uma faxina geral, rasparam o esterco do mangueiro (curral), arrumaram as cercas, reparam o trilho da estrada até o alto da serra.
O capítulo (o livro é ótimo) referente à visita e ao visitante é agradável de se ler pela riqueza de detalhes e acontecimentos que se deram enquanto o conde lá estivera hospedado, tendo inclusive saído para caçar com o pai de Balthazar a cavalo, espingardas à bandoleira.
A ilustre visita durou dois dias. Lembra Balthazar, que seu pai assim se referia quando lembravam aquele acontecimento:
“Sempre para uma coisa me serviu. Para eu criar coragem, forrar e retocar a casa, serviço que eu queria fazer mas estava sempre adiando.”