UM CHARME

Lembro-me dela. Morava ali, naquela casa rósea, espremida, desbotada, de reboco caindo, de paredes inseguras. Na janela, agora apodrecida, com visão da rua, ela se debruçava e dizia versos para quem passava. Versos que o coração sussurrava. “É tão fácil colorir a vida alheia: basta um sorriso e a alma cheia de improviso!” A casa … Ler mais

AMOR INSUBSTITUÍVEL

Amei Eugênia durante os oito anos de convivência. Morávamos aos pés da Mantiqueira, numa casa de madeira, avarandada, circundada por margaridas. Possuíamos poucos móveis, rústicos, mas todos nos confortavam ao fim do dia. Antes de o galo cantar eu me punha a enxadar o pedaço de terra que havia comprado com as economias de muito … Ler mais

O AMOR BATE À PORTA

Ela relutou. O conselho da amiga infringia o seu padrão de conduta. Não que fosse algo pernicioso. Longe disso. Mas semelhava a um vulcão explodindo a sua timidez. O que pensariam dela? Foram dias e noites reavaliando aquela possibilidade até que, numa madrugada chuvosa, após a solidão a ferir com mais ferocidade, elaborou o texto: … Ler mais

VAI UMA CERVEJINHA AÍ?

Eram raras as estradas que não se pareciam com um queijo suíço. Desvia daqui, desvia dali. Quantas manobras para superar rodovias empoeiradas do nordeste, meu Deus! Sol endiabrado. Água escassa. Tempo estrangulado. Estava em uma estrada de Petrolina quando resolveu desaguar a bexiga. Encostou a carreta, ficou de costas para a boleia. Quando começou a … Ler mais

A PSICÓLOGA

Apesar da longevidade, era ele um homem tímido. Um homem de relacionamentos imerecidos. Um homem que se entregara de corpo e alma às mulheres que amou, sem reciprocidade. Depois de tantas frustrações, havia decidido preservar-se, viver só, “não dar sopa pro azar”. “Assim não sofro mais”, pensava. Considerou ir morar no topo da montanha, numa … Ler mais

FAMÍLIA DE VITRINE

Os olhos do menino maltrapilho com sonhos inalcançáveis assediavam vitrines natalinas. A barriga roncava. A mãe o abandonara para viver com o traficante do morro. Com apenas seis anos, aquele fiozinho de gente tinha que se sustentar engraxando sapatos. Naquele dia não conseguiu nenhum cliente. Engraxate era profissão quase extinta. Só lhe restava ir para … Ler mais

QUAL É O BICHO?

Quantos bichos você é capaz de encontrar nesse texto? Envie a resposta ao WhatsApp 99735 0611 Talvez você não saiba a origem do amigo secreto, essa confraternização que acontece no último mês do ano com a finalidade de trocar presentes. De lá pra cá, algumas modificações foram feitas pelo homem. É sabido que nas empresas, … Ler mais

NUNCA É TARDE PARA FAZER O BEM

Jamais me esquecerei da velhinha de lenço florido na cabeça, que vi durante todos os dias da semana vizinha do Natal. Tinha ela corpo minúsculo, rosto miúdo, pele ressequida e óculos arredondados que emolduravam a ternura. Surgia pela primeira hora da manhã, caminhando devagarinho, desequilibrada pelos empurrões da brisa, e se sentava no banco mais … Ler mais

UM BAFO POR NEYMAR

Ano de Copa do Mundo. Assim como o carnaval, é um evento que anestesia grande parte da população, fazendo com que toda e qualquer dificuldade seja desmemoriada no período. Nos anos em que se realiza o principal campeonato mundial de futebol, a febre das figurinhas se alastra pelos quatro cantos do planeta. Aqui no Brasil, … Ler mais

PESADELO TUPINIQUIM

O indiozinho foi caçar longe da aldeia e acabou se perdendo na floresta. Mas não se preocupou, pois sabia a língua dos bichos e, por isso, poderia pedir informação e voltar assim que desejasse. Saboreando a manobra do destino, atravessou um riozinho, caminhou entre helicônias e alamandase resolveu se deitar na relva para ouvir o … Ler mais

E SE FOSSE VOCÊ?

Papai era um homem agressivo. Muito agressivo. Discutia com mamãe por motivos banais e sem motivo algum. Tinha ele a voz grave, retumbante, carregada de palavrões — daqueles mais cabeludos — e a mão pesada. Da última vez que mamãe conversou com ele para abandonar o vício e ir com ela à igreja, ele a … Ler mais

CONTATO DE PRIMEIRO GRAU

Aconteceu num domingo. Acredito que, naquele tempo, tinha sete ou oito anos, não mais. Estava em férias no sítio de meus avós maternos, propriedade bem cuidada, com pomar, horta, meia dúzia de vacas e dois cavalos. Ah, quase me esqueço do Molenga, o vira-lata que não arredava as patas do fogão de lenha. Depois do … Ler mais