SE A MODA PEGA

A loira chegou no meio da madrugada acompanhada de serviçais: a senhora grisalha e o rapazote. Estabeleceram-se no enorme sobrado de esquina, em bairro paulistano. Pela manhã, ginasticou em corrida moderada pelo jardim, sob olhares da vizinhança curiosa. Era mulher escandalosamente linda: corpo longilíneo, olhos cor de mel, cabelos levemente ondulados roçando os ombros. Seus … Ler mais

COM A MORTE NÃO SE BRINCA

Depois de incontáveis rescisões contratuais, Zé Molenga estava novamente empregado. O preguiçoso conseguira vaga na Funerária Bonfim, localizada no Beco Sem Saída. O dono do estabelecimento, sabedor da fama do recém-contratado, fez severa advertência: – Vagabundo aqui, só morto, porque dá lucro. Tá entendido? -Fique tranquilo. Meu nome agora é trabalho. Sob a inspeção ferrenha … Ler mais

FLORES PARA FLORES (Dedicado a todas as mães. Saudade, mãe!)

Segundo domingo de maio. Estava de saída quando o Perna Seca chegou. Reuníamo-nos todos os domingos no campinho do bairro onde, depois do futebol, fraternizávamos churrasqueando. Assim que me viu sem o traje futebolístico, inquiriu: – Ôxente! Vai na pelada, não? Meneei a cabeça e retruquei: – Hoje é dia das mães, esqueceu? Não vai … Ler mais

PÉS DE GALINHA

Quando o carteiro lhe entregou a correspondência, entre os inúmeros boletos de cobrança havia o envelope com letras douradas. Sem dar importância ao “intruso”, abandonou o pacote sobre a mesa. Foi a esposa quem teve coragem de inspecionar as missivas. – Meu irmão voltou, Tião.Mandou convite prum jantar na casa dele. Semana que vem. – … Ler mais

VALSA DA DESPEDIDA

Ao assumir modesto cargo na agência bancária da cidadezinha que não aparecia em mapa algum, prometeu a sique gerenciaria uma das filiais na capital paulista. Desde então,executava as atividades com dedicação, rapidez e eficiência. Entretanto,somente isso não o habilitava a qualquer promoção. Era preciso fazer algo que estampasse o seu nome na diretoria. Após avaliar … Ler mais

PLANTÃO DA MADRUGADA

– Sente-se. – Brigado, dotô. – O que o senhor tem? – O que co tenho? Um tiquinho de nada, dotô. Três galinha, um galo, o casar de porco, dois cachorro, o maiadinho, a muié, os oito fio… – Perguntei o que o senhor tem pra procurar um médico. – O que co tenho? Sei … Ler mais

PÁGINA VIRADA

Duas décadas de casamento. Um caminho sinuoso de instabilidades e reconciliações. O diálogo se desgastara pela inflexibilidade de ambos. Os cabelos dele mergulharam num alvor opaco. Os dela, não recebiam mais o tratamento de outrora; por isso, desgrenhados, sem viço, desbotados. As rugas se expandiam pelo rosto dele, tornando-o charmoso. Pelo rosto dela as carquilhas … Ler mais

A CONFISSÃO DE INOCÊNCIO

– Padre, eu vim me confessar. – Senhor Inocêncio, já disse ao senhor que seus pecadilhos dispensam confissão. Deus os sabe inofensivos. – Mas, padre… – Não se torture por bobagens. A senhor é incapaz de cometer qualquer ato lesivo. – Era, padre. Era. De uns tempos pra cá sou a mais pecaminoso do seu … Ler mais

BANHO QUE VALE CARRO

O fato aconteceu no distante ano de 1947. Para alavancar as vendas e afastar de vez a concorrência, certo fabricante de sabonetes prometera automóvel 0km a quem encontrasse chave dentro de seus produtos. Os irmãos da Rua Sem Nome, exceto o primogênito, investiram toda a economia na aquisição dos sabonetes, supostamente, premiados. A partir de … Ler mais

CARTA AO PAPAI NOEL

No refeitório, após a última garfada, resolveu abrir o envelope. – Bilhetinho da namorada? Meneando a cabeça, explicou ao chefe de produção que todos os anos ia ao Correio e escolhia, aleatoriamente, uma das inúmeras cartinhas que crianças carentes escreviam para pedir presentes ao Papai Noel. O escolhido, ou a escolhida, teria o pedido realizado. … Ler mais

Azeitonas? Nunca mais

Minha esposa enfatizou riscos de estripulias na tentativa de convencer a mãe em não fazê-las. Entretanto, sabendo que a velha era teimosa e indomesticável, me cobriu de beijos e implorou: – Benzinho, vai lá você comprar o remédio pra mamãe, vai. – Agora? Impossível! Só se for depois do jogo. – Depois não dá. Ela … Ler mais

motim

Relâmpagos rasgavam o céu noturno açulando o oceano, enquanto trovões mergulhavam no intuito de despertar Netuno. O vento uivava sinfonias fúnebres. No pequeno bote de madeira, sobreviventes enfrentavam ondas gigantescas do Atlântico. – Vamos morrer! O comandante engolia o agouro e tentava insuflar otimismo na tripulação. – Sejam firmes, marujos! Sejam firmes! Daqui a pouco … Ler mais