Desencanto

Percorrendo de novo estes caminhos por onde tantas vezes nós passamos, venho, agora, encontrar somente espinhos em vez de flores nestes mesmos ramos. Quantas vezes, outrora, aqui sozinhos, O amor que nos prendia, confessamos, e ao murmúrio das aves que nos ninhos se amavam, quantas vezes nos amamos! Tudo em torno de nós, era beleza … Ler mais

A voz do amor

Nessa pupila rútila, molhada, ninho misterioso da ternura, a ampla noite do amor e da loucura Se desenrola, quente e embalsamada. Quando, às vezes, a vista desvairada embebo, ansioso, nessa noite escura, dela rompe uma voz, que, entrecortada de soluços e cânticos, murmura… É a voz do Amor, que, em teu olhar falando, num concerto … Ler mais

A saudade

Quando se guarda em mente a imagem bela duma mulher que nosso amor enlaça, em tudo que se fita, o olhar abraça um quer que seja que nos fala dela. É que a saudade faz com que renasça, como acendendo o esquema duma tela eu lhe pasmando a pálida aquarela em viva estátua de sorriso … Ler mais

Livro da Vida

Abro o livro de toda a minha vida e leio. Na página primeiro encontro a juventude: Eu era um sol no lar, na aurora davirtude, e dúlcida manhã, na irradiação do enleio. Vem outra fase. Dia. Eu, de esperanças cheio, sorvo a taça do amor, que aos corações ilude, e matando o ideal, num prosaismo … Ler mais

Cantigas

Foi no caminho do ocaso que de manhã te encontrei. Vinhas de longe, cantando uma canção que não sei. Vinha sorrindo e me olhaste; ia sorrindo e te olhei. Fomos passando, passando, passando… e nunca mais te encontrei. Meu corpo encontrou teu corpo Na rua da solidão. Foi no caminho do ocaso que de manhã … Ler mais

Largo São José

No Largo de São José Naquele tempo passado Havia tourada até No velho quintal do Prado. E o “sinhô” fazia teatro Com o Juvenal Faria; Pintavam o diabo a quatro Com roupas da sacristia. De repente, de mansinho, Chegava o padre Miguel E encontrava o “Bastiãozinho” Na mala – sorte cruel! Descia a bengala às … Ler mais

Galanteio

Beijo-te as lindas mãos com que me feres… as lindas mãos com que me feres beijo… E entre os desejos meus, eu só desejo ter a vaga ilusão de que me queres… E é só. E é tudo. Enquanto se puderes, acolhe com um sorriso, o meu cortejo. Já não me iludo ao ver-te qual … Ler mais

À tardinha

Cássio Rezende, Jornal Sete Dias (extinto), 15 de dezembro, 1968 Adejava no ar uma andorinha que os insetos voláteis perseguia. Ora subia mais, ora descia, bafejada das auras da tardinha. Tanto voou que foi se uma peninha, que em lugar de baixar, sempre subia, e para reavê-la se esvaia, pois a pena, subindo, não lhe … Ler mais

A lusa língua

Cultivo e amo a língua portuguesa, língua do amor, idioma da saudade! Em que ora verto o pranto da tristeza, E ora gargalho o som da alacridade. Plena de graça, estuante de riqueza, toda esplendor, toda suntuosidade, freme e palpita, em vibrações acesa, língua do amor, idioma da saudade! Há nela o encanto verde da … Ler mais

A volta do Imperador

Cento e cinquenta anos depois de sua inesquecível passagem pela terra natal do comandante de sua guarda, o imperador Pedro I, saindo novamente do Rio de Janeiro com destino a São Paulo, voltou a fazer uma parada na Vila Nossa Senhora do Bom Sucesso. O lugar já não era mais uma vila mais continuava Pindamonhangaba. … Ler mais

A garça exilada

De asas cortadas, sobre um tarso erguida, a nívea garça, triste como um pariá, contemplativa, imóvel, solitária, sonhar parece n’uma extinta vida. Indiferente à alegre, à mundanaria turba que passa na afanosa lida, – Na pátria azul do sonho, entorpecida, revê talvez a pátria imaginária… Junto do lago assim os dias leva: À noite quando … Ler mais

Ternura

Passa os teus dedos vagarosamente por meus cabelos… indolentemente… esses dedos de rosa e de cetim. Fita-me assim, numa ternura ardente, no abandono infinito de quem sente o desmaio do amor… assim… assim… Fruindo essa carícia langorosa, tenho a louca ilusão de que sou bem feliz! Vejo a vida virente, venturosa, vejo o mundo encantado, … Ler mais