Como Pindamonhangaba enfrentou a pandemia da gripe espanhola em 1918
Numa manhã de março, no ano 1918, um soldado norte americano chegou à enfermaria de um acampamento militar com fortes sintomas de gripe. Ele apresentava febre, dores musculares e dor de garganta. Com a primeira guerra mundial em curso, em poucos meses, um terço da população mundial foi afetada pela pandemia denominada de “Influenza Hespanhola”, que estima-se ter matado 50 milhões em todo o mundo.
Chegada no Brasil
Após seis meses de seu surgimento, em setembro, a gripe espanhola chegou ao Brasil, quando uma embarcação americana atracou em Salvador. Facilmente espalhou-se em todo o território, exigindo medidas extremas de prevenção, causando o caos no sistema de saúde e segundo estimativas, vitimizando cerca de 35 mil brasileiros, entre eles o nosso conterrâneo do Vale do Paraíba, Presidente da República Rodrigues Alves, que contraiu a gripe espanhola em 1918, impedindo-o de tomar posse para mais um mandato presidencial, vindo a falecer em janeiro de 1919.
O enfrentamento em Pindamonhangaba
Em Pindamonhangaba, que contava com pouco mais de 20 mil habitantes, não foi diferente e em outubro de 1918 a cidade já noticiava os primeiros casos.
Estima-se segundo jornais da época que a doença matou mais de 300 Pindamonhangabense.
Em pesquisa ao jornal Tribuna do Norte (edição 12/04/2018) deparei com artigo do nosso colega jornalista Altair Fernandes de Carvalho, que após consultas a edições do ano de 1918 relembrava fatos interessantes sobre a gripe espanhola em nosso município:
– As escolas interromperam as aulas,
– Por ordem da Secretaria do Arcebispado, as cerimônias religiosas antes realizadas à noite passaram a ser à tarde.
– O delegado de polícia, Carvalho Franco, ordenou aos inspetores de bairro que verificassem quaisquer casos de gripe em seus quarteirões e tomassem as devidas providências.
– A Associação Cruz Vermelha, sob a coordenação de Guiomar Lessa César (esposa do Deputado Claro César) foi às ruas em busca de auxílio em favor dos enfermos, arrecadando roupas, roupas de cama, chinelos e dinheiro.
– Prefeitura adquiriu do cidadão José Malabarba, um sobrado amplo situado na Rua Gregório Costa, proximidades da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, instalando-se ali um hospital provisório para receber gratuitamente os doentes infectados pela “influenza”.
– Equipe de estudantes da escola de Farmácia se encarregou de organizar as estatísticas dos enfermos, e outra, formada pelos estudantes do primeiro ano, se responsabilizou pelo serviço de farmácia.
– Deputado e médico Dr. Claro César, ausentou-se do Congresso e retornou ao município realizando atendimento médico à população.
– Diversos casos foram registrados nos bairros Moreira César e no bairro do Bonsucesso. No bairro do Crispim haviam encontrado muitos doentes em estado de penúria.
– Com a finalidade de evitar aglomeração, o pároco, padre José Loyelo Bianchi, providenciou um carro para trasladar a imagem de Nossa Senhora do Socorro para a igreja matriz, onde durante o dia os fiéis faziam a prece milagrosa pedindo ao fim da epidemia.
– No hospital de isolamento, os doutores Navarro Andrade, Ayres Bastos, Oscar Varella, Gustavo de Godoy e os estudantes da Escola de Farmácia trabalhavam com afinco no atendimento às vítimas.
– Contraíram a gripe espanhola na cidade: o médico e deputado dr. Claro Cesar, sua esposa Guiomar Lessa César (presidente da Cruz Vermelha local); o dr. Ayres Bastos, sua esposa Elvira Bastos (vice-presidente da cruz Vermelha); o pároco, padre José Loyelo Bianchi; o estudante Jacy Assunção, o professor Athayde Marcondes, Plínio Cabral e Claro von Blom Godoy. Felizmente todos haviam se reestabelecido.
– Após dois meses a epidemia começou a registrar queda e em dezembro o hospital de isolamento é fechado, com a informação de que a epidemia fez entre 5 e 6 mortes por dia.
Alguma coincidência com os dias atuais?
Desde então, o mundo registrou outras três pandemias: a gripe asiática (1957), a de Hong Kong (1968) e a H1N1 (2009). Apesar do avanço da medicina, cientistas do mundo inteiro há tempos estão prevendo uma quinta epidemia. Está aí, ela chegou: Covid-19 (2020).
Sabemos que vai passar. Fica neste artigo, o registro do passado para lembrar que no presente façamos a nossa parte e no futuro não contabilizemos maiores estragos.