Nossa Terra Nossa Gente : A ALQUIMIA POÉTICA DE RICARDO ESTEVÃO

Ricardo Estevão de Almeida, escritor pindamonhangabense, há muito consagrado por seus romances de ficção (Quantas vezes eu morri, O amor silenciado, Rio e mar, Sete dias no reino de Etar, Bob Kurt), reúne pela segunda vez, os poemas de sua autoria: Felizes são as árvores! Em parceria com Eva Andrade e Juraci Faria, 2018, publica seus versos na obra intitulada A Estética do Amor: breviário poético.
Graças à divina providência, tive eu o privilégio de ver nascer cada poema deste livro, antes mesmo do amigo-poeta sonhar publicá-los. A ideia chegou num momento especial de sua vida: a celebração dos dez anos de sua atuação profissional como professor de Redação do Colégio Emílio Ribas – Anglo Pindamonhangaba e, também, de seu aniversário (o menino que viveu a infância e parte da juventude no Sítio São José, aos pés da Serra da Mantiqueira, nasceu aos 27 de março de 1973).
À “Nossa terra, nossa gente”, confesso: é indescritível a gratidão de ver nascer verso a verso, poema a poema, uma obra como esta! A seleção dos poemas, a definição da capa, a apresentação de Eva Andrade (nós dois, numa manhã de domingo, fomos até a Fazenda Nova GoKula, no Ribeirão Grande, fazer pessoalmente o convite), os primeiros bonecos, as revisões, as idas e vindas à Editora Casa, a espera do lote de livros impresso, o local do lançamento, a acolhida amorosa aos seus familiares, amigos e alunos na noite de autógrafos. Tudo tecido com a mesma matéria e o mesmo elã de sua poesia!
– Felizes são as árvores?
Felizes somos nós que temos em mãos esta preciosidade: a alquimia poética de Ricardo Estevão! Seus versos fundem em nosso ser os elementos que o poeta encontrou para transcender o chão da existência e transubstanciar a matéria preciosa de que somos constituídos em estrofes, ritmos, figuras de linguagem e rimas.
Aquele que é chamado a ler sua obra poética adentra o laboratório de sua alma e, por si só, desvela que nela há um rio que corre, ora por prados verdejantes de esperança e paz, ora por fendas profundas e abissais, despencando do alto de gigantescas montanhas em direção ao seu mar de amor, ao seu mar de espera, ao seu Oceano Sagrado.
A poesia de Ricardo Estevão esconde uma fórmula secreta elaborada pelos quatro elementos básicos da constituição de sua matéria físico-poética: terra/poesia-chão, água/poesia-rio, fogo/poesia-paixão e ar/poesia-mística, e, de modo surpreendente, pela indispensável presença do elemento perfeito, a “quintessência” de seu ser, presente no plano não terrestre, formador da lua, do sol, do céu e das estrelas – e, em Felizes são as árvores, em cada verso materializado nessas folhas que, ao serem lidas e relidas, em nosso ser se transmutam em raízes, caule, folhas, flores, frutos e sementes que jamais sofrerão as intempéries das quatro estações e, ao longo do tempo e por outros espaços, estarão sempre a germinar, florescer, frutificar…
O segredo dessa fórmula secreta de Ricardo Estevão? Ao folhear Felizes são as árvores, o leitor descobre não só como transformar metais em ouro e o elixir da longa vida como também a alquimia poética do autor: transformar a vida em poesia e a poesia em Amor! Apreciemos:

Felizes são as árvores

Duas toalhas no varal
A louça lavada
Seu perfume
Sinais que denunciam sua presença
Sem prová-la
Apenas evocações
Reminiscências
De uma noite que passou.
Passou.
Será que você veio?
A razão penetra o escuro do mistério…
Quando é que estamos onde estamos?
Como capturar um sentimento?
Por que capturar?
Por que esse desejo nunca satisfeito?
Por que desejar?
Duas toalhas no varal
E essa confusão no meu peito
Revelando sem prudência
Sua amiúde e dolorosa
Ausência.

  • Ricardo Estevão e a mãe, Elisabeth, no lançamento de "Felizes são as árvores"