A arte que contribui para a ciência
Houve um tempo em que caçar passarinho fazia parte das brincadeiras da criançada, ter um estilingue, mirar e acertar o alvo era a meta da garotada. Parece mórbido, mas fazia parte da infância. Hoje muita coisa mudou, muita mata baixou, muitas espécies se extinguiram.
Agora a ordem é lutar pela preservação de toda espécie de vida. Em relação aos passarinhos a tendência é observá-los, protegê-los, estudá-los, distinguir seu canto, conhecer os pássaros do seu entorno.
Desde os 12 anos, Juliano Marques Gomes, gosta de observar as aves. Hoje, adulto, ele dedica pelo menos algumas horas toda a semana para observar e fotografar pássaros em Pindamonhangaba.
E foi em suas andanças em busca de boas fotos, que, em junho de 2016, ele se deparou com uma espécie rara de coruja. Às margens do rio Paraíba, ele encontrou a Jacurutu, a maior espécie de coruja das Américas. “Primeiro eu ouvi o som dela. Gravei e no outro dia voltei. Ao soltar o playback com o som, a coruja passou a responder e eu pude localizar um casal da espécie numa árvore alta”, relembra Juliano.
Alguns dias depois, ele voltou ao local para tentar fotos mais próximas e, ao subir numa árvore, avistou, no alto de outra árvore de cerca de 18 metros, o ninho da coruja, contendo ovos. “Foi muita sorte e eu passei a voltar lá toda semana, para acompanhar o desenvolvimento dos filhotes”, conta ele.
Em agosto de 2016, juntamente com um amigo biólogo, Juliano entrou na mata a procura de sinais do nascimento dos filhotes. Eles conseguiram avistar cascas de ovos e constataram que um ovo havia caído do ninho e outros dois haviam eclodido, com dois filhotinhos da coruja.
“Continuei acompanhando tudo e, logo depois, um dos fillhotinhos morreu, restando apenas um, que eu fotografei em vários momentos”.
Os registros de Juliano continuaram até novembro, quando o filhote, já crescido, deixou o ninho e partiu. O casal continua no local até hoje.
Com as fotos e anotações, Juliano conseguiu registrar a espécie no WikiAves, uma plataforma de informações sobre espécies de pássaros de todo o país.
Ele também apresentou sua descoberta ao Avistar Brasil, maior encontro nacional de observadores de aves. Pelo seu trabalho, ele foi convidado a fazer uma palestra, no dia 20 de maio, no Instituto Butantã, para pesquisadores, biólogos e observadores de aves de todo o país. “Foi uma grande experiência poder falar sobre a espécie registrada aqui na cidade.”, destacou ele.
Essa não foi a primeira espécie de ave registrada por Juliano na Wikiaves. Ele já contribuiu com registros de outras espécies encontradas em Pindamonhangaba, como o gavião do banhado, o falcão de coleira e o papa formiga de grota, entre outros.