História : A ‘Associação Protectora dos Animaes’
A preocupação com os animais, em especial com os animais vítimas de maus tratos, é prática cada vez mais consciente entre a maioria dos povos nos tempos atuais. A página de história comenta nesta edição um artigo publicado neste jornal no dia 4 de setembro de 1921, revelando que o assunto vinha a público já na Pindamonhangaba antiga, há quase cem anos.
Com o título ‘Associação Protetora dos animais’, o redator da Tribuna do Norte, inicia seu artigo de primeira página (edição acima mencionada) alertando os leitores, naquele começo de anos vintes, para o fato de que nos países da Europa e nas capitais e cidades adiantadas estavam sendo fundadas associações que se destinavam à proteção dos animais. “O povo civilizado não se esquece de que os irracionais também precisam ser protegidos, precisam dos cuidados dos que têm alma mais compadecida e é por isso que se fundam essas úteis associações.”
O articulista manifestava preocupação, principalmente, com os animais que se destinavam ao trabalho, como ajudantes do homem. Apesar de já existirem os veículos automotivos, ainda era um tempo em que a tração animal era recurso mais comum para atender às necessidades humanas no transporte de cargas e dele mesmo. A iniciativa do jornalista em sugerir a criação de uma Associação Protetora dos Animais naquela época, ele explica relatando as cenas de violência contra os animais que vinham sendo observadas frequentemente nas ruas de Pindamonhangaba.
“Temos tido ocasião de ver como são maltratados os animais que conduzem veículos e principalmente carroças atopetadas de objetos pesadíssimos – carga superior às forças dos pobres animais que a conduzem. O relho não descansa nas mãos de carroceiros despiedados, que não satisfeitos de verem suas carroças cheias, ainda castigam os animais brutalmente. Colocam nos varais de suas carroças animais que mais parecem esqueletos, sem trato algum, que mal podem com os arreios quanto mais com um veículo cheio”.
Os meninos cavaleiros também não são poupados na matéria da Tribuna, “pelas ruas da cidade percorrem meninos a cavalo, chicoteiam e esporeiam os animais em que montam e longas horas galopam, sem saber por que o fazem, a não ser por simples garotagem, sem ter quem os proíbam de praticar semelhante selvageria”.
Um comunicado do secretário da Justiça da época, determinando proibições com referência aos animais e principalmente às aves, publicação que já havia sido, conforme o redator da TN, publicada naquele semanário “em letras garrafais”, também era comentado no artigo: “continuam a passar pelas ruas da cidade, vendedores de aves, penduradas em paus, maltratando-as, portanto, desobedecendo as leis e o referido aviso”.
Prosseguindo, o articulista faz menção ao boi, o colocando como o mais útil dos animais. Destaca sua satisfação quanto ao fato de terem abolido a realização das touradas no município.Esse triste espetáculo de maus tratos aos animais, ele ressalta como sendo um divertimento que “só poderá agradar aos descompadecidos e aos que não têm alma bem formada”.
Sobre a Associação Protetora dos animais que já existia na capital contava que vinha prestando inúmeros serviços aos pobres animais, “que vivem sob pesos enormes de enormes cargas, e chicoteados barbaramente”.
A matéria da TN é concluída com a certeza de que Pindamonhangaba teria também a sua Associação Protetora dos Animais. A entidade seria fundada nos moldes das já existentes no país. “Oxalá possa nossa ideia triunfar para que, mais uma vez atestemos o grau de adiantamento de nossa terra aos que nos visitarem”, conclui o redator, assinando com as iniciais A.M. (certamente, Athayde Marcondes).