Nossa Terra Nossa Gente : A “BANCA DO SEU ROMÃO” DEIXA SAUDADES…
Janeiro chegou trazendo mudanças no Largo São José, cenário de referência no centro de Pindamonhangaba. Para tristeza de muitos fregueses e amigos de longa data do Seu Romão, sua banca de jornais e revistas não resistiu à crise do mercado editorial brasileiro e, junto a muitos gigantes do ramo, fechou as portas.
A Praça Barão do Rio Branco que abriga dois prédios históricos – Palacete Tiradentes e a Igreja São José -, a histórica Tribuna do Norte da Fundação Dr. João Romeiro, o Instituto São José e a Faculdade Santa Cecília, além de um encantador casario do seu entorno, perdeu mais um de seus encantos. Localizada em frente à Agência de Correios, a “banca do Seu Romão” tornou-se um ponto de referência da praça. Aberta de segunda a segunda, desde a manhãzinha até às 18 horas, atendia um público variado: as crianças com seus gibis e álbuns de figurinhas e, também, jovens e adultos, com sua diversidade de títulos de jornais, revistas e coleções de livros, filmes e CDs.
Como freguesa de bons anos, pouco a pouco fui percebendo os títulos diminuírem suas vendas, as prateleiras abrirem espaços cada vez maiores entre seus volumes, as crianças e jovens passarem despercebidos das histórias em quadrinhos, das revistas, dos livros… sucesso garantido de vendas entre as gerações de uma década atrás ou menos ainda. (A tecnologia roubou os olhos e a alma das crianças, dos jovens e adultos do século XXI para as notícias veiculadas na sua “timeline”?)
Do mesmo modo, fui percebendo a tristeza tomar conta do olhar do Seu Romão… Temendo o que estava por vir, pedi a ele uma entrevista, um dedo de prosa sobre a sua vida e a história de sua banca… Ele simplesmente abaixou a cabeça e pediu-me desculpas. Após longo silêncio, segredou-me que eram seus últimos dias de trabalho e, por isso, não tinha condições emocionais de conversar comigo.
A dor da alma do Seu Romão era tão profunda que ainda reverbera em mim… Posso imaginar como deve ter sido difícil para ele despachar, pela última vez, o lote de mercadorias e, no silêncio de seu coração, trancar a porta de seu antigo comércio. Posso imaginá-lo a buscar outro fio da vida para tecer uma nova história, tão valiosa e digna quanto a que ele escreveu com o seu pequeno comércio no centro de nossa cidade Princesa!
Tantos amigos, tantos fregueses, tantas gerações Seu Romão proveu de informações e de cultura! Graças ao seu trabalho, por muitas décadas tivemos as informações que julgávamos necessárias ao alcance de nossas mãos e, sobretudo, um amigo sincero que atendia a todos com respeito e atenção, sem nunca esquecer um de nossos pedidos.
A sua banca de jornais e de revistas do Largo São José deixa um vazio maior que os poucos metros quadrados que ela ocupava… Mais do que de suas mercadorias, temos saudades do Seu Romão. Uma saudade tecida com os fios da gratidão de nossa terra, de nossa gente. Que esses fios sejam capazes de tecer o nosso abraço fraterno, as palavras que gostaríamos de ter-lhe dito, os sonhos que todo ser humano deve cultivar quando o rio da vida faz uma curva acentuada e nos conduz a outros prados tão plenos de luz e de sentido quanto a própria vida!