Nossa Terra Nossa Gente : A CAMPOS DO JORDÃO DE BALTHAZAR DE GODOY MOREIRA
“O que a memória ama fica eterno.” Esse pensamento de Adélia Prado sempre me afetou, mas, ao ler a obra de Balthazar de Godoy Moreira – “… E os Campos do Jordão foram Pindamonhangaba” -, a eternidade do amor do menestrel de Pindamonhangaba pela história de seus antepassados e de sua terra natal fez morada em meu coração e se aquilatou ainda mais!
Nessa obra, Balthazar abre a caixinha da memória e de lá retira as lembranças de seu pai, o Coronel Antônio Amador Bueno de Godoy, e de seu avô, Antônio de Godoy Moreira e Costa, sobre a ferrenha disputa entre os moradores da Vila Real de Pindamonhangaba e dos mineiros da Vila de Itajubá pela posse das terras onde hoje situa-se Campos do Jordão. Os “pindenses” obtiveram vitória, e, por isso, até 1874 – ano da emancipação política de Campos do Jordão-, tais “Campos” eram Pindamonhangaba!
Nos idos de 1855, o avô e o tio-avô de Balthazar compraram um quinhão de terra de um dos herdeiros do Brigadeiro Jordão; desde então, os Godoy Moreira adquiriram um dos recantos mais belos da Montanha Encantada: a Guarda!
Antes que se instalasse a fazenda dos Godoy Moreira na Guarda, já o nome – GUARDA – pertencia ao lugar. Mas por que “A Guarda”? Porque ali, perto da divisa ainda incerta entre São Paulo e Minas, no tempo da mineração, a Coroa teria estabelecido naquele ponto estratégico para o alto da serra e para o Paraíba um posto fiscal que, por mais de um século, fora mantido para impedir o avanço dos mineiros às terras da Capitania de São Paulo pertencentes a Pindamonhangaba.
O avô de Balthazar construiu na Guarda uma ampla casa, assoalhada e forrada, com porta entre as quatro janelas da fachada, de beirais largos, contendo um vestíbulo, sala de jantar, cinco dormitórios, quarto para os serviçais, despensa, cozinha com vasto fogão e forno de cupim.
Caiada de branco com portas e janelas azuis, a casa de veraneio dos Godoy Moreira em “Campos” hospedou figuras ilustres do final do século 19 e início do 20: Conde D’Eu, Emílio Ribas, Visconde do Rio Branco, os escritores Cornélio Pena e Paulo Setúbal, dentre outros.
Nos idos de 1940, as terras da Guarda foram desapropriadas para a criação do Parque Estadual de Campos do Jordão (Decreto Lei nº 11.908, de 27 de março de 194), atualmente Horto Florestal.
No local da velha casa dos Godoy Moreira e naqueles campos de araucárias serpenteados pelos rios Galharada e Sapucaí, foram instaladas estradas para locomoção de veículos, serraria, escola e residências com luz elétrica e telefone, enfim, um “bicho” até então desconhecido naquelas paragens – o progresso, que devorou até as ruínas da velha casa dos Godoy Moreira:
“Não estava mais ali a casa. Não havia mais a Guarda. (…) Cem anos de nossa família estavam ali sepultados, no pé das paredes derruídas, na poeira daquele chão onde soaram os passos de todos os meus queridos ancestrais” (MOREIRA: 1969, p. 255).
Com esse lastro de reminiscência, evocado no belíssimo livro “… E os Campos do Jordão eram Pindamonhangaba”, Balthazar instaura em nós um inexplicável mistério: transporta-nos no tempo e no espaço e, com flashes de luz e de sua escrita magistral, o Poeta transpõe para a alma leitora a história de amor dos Godoy Moreira por aquele recanto dos antigos “Campos”, eternizada em suas memórias da Guarda!