Vanguarda Literária : A CRIANÇA E AS BRINCADEIRAS
Os estudiosos do desenvolvimento infantil mostram-nos que a base da experiência infantil é a brincadeira. Certamente, as crianças que não têm a oportunidade de brincar sofrem possíveis interrupções graves no seu desenvolvimento, as quais podem originar crises intelectuais, psicológicas, visto que, é na brincadeira e através dela que elas exercitam os seus processos mentais. Sem esse exercício seu pensamento pode permanecer superficial e pouco desenvolvido. Convém salientar também que o aperfeiçoamento da linguagem também é acelerado pela brincadeira, base inquestionável do aprendizado. Torna-se importante, portanto, que todos que trabalham com crianças: sobretudo pais, educadores, pediatras, terem a consciência de que o trabalho da criança é brincar, pois, brincando ela aprende, descobre, explora, toma contato e conhece o mundo. O brincar promove o crescimento, e, portanto SAÚDE. Brincar é uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros, o que significa: conduz aos relacionamentos grupais. Não é sem razão que o Filósofo Francês Montaigne (1533-1592), para quem o único conhecimento digno de valor é aquele que se adquire por si mesmo, frisou que, se quisermos entender a criança se faz necessário entender as suas brincadeiras, e que, é por meio delas que as coisas funcionam e acontecem, o que pode ou não ser feito. É brincando com os outro que elas entendem que existem regras de condutas que devem ser cumpridas se quiser que os outros brinquem com elas.
Portanto, por via do brinquedo a criança efetua suas primeiras grandes realizações sejam culturais ou psicológicas. Se o adulto compreendesse que colaboraria, em muito, com o desenvolvimento da linguagem infantil, se participasse com as crianças, de conversas num nível que elas entendam, com certeza, promoveria experiências positivas, marcantes, tornando-as mais alegres e otimistas. Relembro o meu querido Mestre Cornélio Pedroso Rosemburgo, grande especialista em Desenvolvimento Infantil, da Faculdade de Saúde Pública, com quem convivi anos proveitosos da minha vida (não só durante o meu Mestrado e Doutorado), o qual me confessou , certa vez, já quase octogenário, que sentia muito não ter conversado e brincado mais com as crianças.
O grande Mestre Piaget, só para lembrar, ao escrever” A Formação do Símbolo na Criança” (1975) e “ Pensamento e Linguagem na Criança” ( 1975) faz, claramente, referência ao brinquedo em termos de evolução da inteligência e social, em cada período do desenvolvimento. Todos que trabalham com a criança, repito, têm que saber que é por meio da atividade lúdica que a criança expressa seus conflitos, e, desse modo, provavelmente, em muitos casos, reconstruir o passado, o que no adulto é realizado, em especial, por meio de palavras.
Enfim, a brincadeira, na nossa modesta opinião, permite que a criança resolva, de forma simbólica, problemas não resolvidos no passado e enfrente, direta ou simbolicamente questões do presente. Convicto estou de que essa é a ferramenta mais importante que a criança possui sobretudo para se preparar para o complicado mundo dos adultos.