A evolução das brincadeiras de crianças conforme as gerações
Texto: Víctor Belmonte
Outubro é um dos meses que a garotada mais gosta, especialmente para as crianças que fazem aniversário no começo do ano ou em algum outro mês. Isso porque elas recebem presentes mesmo que não seja Natal nem seu aniversário. Outubro é o mês das crianças!
Desde pequenas as crianças comemoram seu dia em 12 de outubro. Às vezes, nem sequer têm consciência da comemoração, apenas recebem os presentes, ficam alegres e brincam.
Origem da data
Segundo relatos, as crianças brasileiras “ganharam um dia para si” no ano de 1923, quando Artur Bernardes era o Presidente da República. Era mais uma conquista política: as crianças ganhavam os seus primeiros direitos.
Embora exista uma data especial para as crianças serem lembradas e presenteadas, elas se divertem todos os dias. Algumas estendem sua infância até por volta dos 10 ou 15 anos de idade.
As infâncias são diferentes. Não apenas em relação à condição financeira de cada família, mas às formas como foram (e são) aproveitadas ou passadas de geração para geração.
Algumas brincadeiras deixaram de existir enquanto novas foram criadas.
Em tempos de monarquia e de regimes ditatoriais é difícil dizer como eram as brincadeiras das crianças, já que não há muitos registros. É fato que a garotada deveria se comportar perante todos, pois naquela época as punições eram severas. Mesmo assim, é muito possível que sempre tenha existido a tradicional “brincadeira de criança”.
Há 50 anos…
Falando de um passado não tão distante, é possível relatar como eram as brincadeiras cerca de 50 anos atrás. Apesar de algumas pessoas acharem que dessa época nada sobrou, algumas tradições foram mantidas e muitas brincadeiras ainda são as mesmas.
Há 50 anos, o Brasil não era um país tão desenvolvido como hoje, e algumas regiões ainda viviam da exportação do café e de outras especiarias; e com isso, as crianças tinham que trabalhar muito cedo.
Nesse tempo, a infância era muito mais desafiadora do que é hoje. Mas, pessoas que cresceram nessa época afirmam que a imaginação e a criatividade eram bem maiores.
Brincadeiras de rua
As gerações dos anos 1950 e 1960 brincavam muito na rua. Com brincadeiras que são conhecidas até os dias de hoje, como “Esconde-Esconde” (ou Pique-Esconde); “Amarelinha”; “Passa-Anel”; “Taco” e “Adivinhação”. As meninas tinham também bonecas de pano e se divertiam muito com elas.
Maria de Fátima, de 57 anos, diz que sua infância foi boa, mas com o contratempo de ter de trabalhar cedo demais. “Eu gostei da minha infância, mas eu queria ter aproveitado mais e não ter começado a trabalhar tão cedo. Não tínhamos como aproveitar muito, pois precisávamos trabalhar e estudar”, conta.
Com o tempo, novas tecnologias foram surgindo de forma inovadora. Em meados de 1970 os discos de vinil já eram comuns; a televisão já fazia parte de algumas casas – o que acabou mudando muitas brincadeiras.
Nas décadas de 1970 e 1980, as crianças podiam brincar na rua sem tantas preocupações como se tem hoje em dia. Conversando com pessoas desse período, elas relatam que “quem foi criança nessa época teve a melhor infância possível. Onde não havia preocupações e nem tantas obrigações”.
Outra questão também ressaltada por adultos que foram crianças nesse tempo era a segurança dos pais em ter filhos brincando na rua, pois “não havia tanta violência e nem fluxo grande de automóveis”, por exemplo.
Mas, “brincar na rua” não impedia que as crianças se divertissem dentro de casa assistindo à televisão, cantando músicas que passavam nas TVs e nos rádios. Essa época, entre 1980 e 1990, período em que a televisão brasileira viveu seu auge, era muito comum que crianças assistissem a programas como o da “Xuxa”, extinta TV Manchete e Rede Globo, o “Cocoricó” e o “Castelo Ra-Tim-Bum”, da TV Cultura; e ouvissem músicas do grupo “Balão Mágico”, fazendo performances de músicas da cantora Simoni.
Desenhos animados
e tabuleiros
Ainda falando de TV, os desenhos animados eram: “He-Man” e os “Caçadores de Fantasmas”, entre outros.
Nessa época também não faltavam os jogos de tabuleiro: toda criança tinha algum e quando se juntavam com amigos, a diversão era garantida pela tarde inteira.
“Apesar de venerar a ‘Barbie’ e só conseguir ter uma aos onze anos de idade, brinquei muito, e tive muitos brinquedos”, conta a professora Aline Pereira, que ainda comparou a sua infância com a atual: “Falar de infância hoje, para mim é lembrar-me de uma crônica de Luís Fernando Veríssimo, intitulada ‘A bola’, cujo enredo trata de um pai que ao presentear seu filho com uma bola se dá conta de que o mesmo não sabe manuseá-la”.
As brincadeiras foram evoluindo e a infância passou a ser diferente. Os saudosistas podem dizer que “as crianças de hoje não aproveitam tanto quanto antes”. Por outro lado, existem aqueles que dizem que “hoje as crianças conseguem brincar mais e sem preocupações, já que não precisam trabalhar cedo”.
E viva a tecnologia
O suporte tecnológico que as crianças têm hoje é maior do que qualquer outra geração. São jogos de celulares, vídeos no YouTube, desenhos que podem ser assistidos de qualquer lugar e a qualquer hora. Com isso, a garotada acaba ficando mais no ambiente digital e intelectual do que nas ruas convivendo com amigos.
Kelly Cristina tem dois filhos, Murilo, de 3 anos e Heitor, de 1 ano. Ela diz que seus filhos gostam muito de brincar de super heróis, de massinha e com tinta, mas que preferem a diversão em aparelhos eletrônicos.
Na outra ponta, a tecnologia acaba auxiliando as crianças a se inspirarem em desenhos e em vídeos para criarem novas brincadeiras, seja imitando heróis ou se entretendo com espadas.
Os filhos de Kelly ainda mantêm o costume de brincar em parques e ela diz que “eles adoram e que às vezes, quando estão brincando com o celular e são convidados para irem pra rua, eles vão correndo”, relata. “A infância hoje é dependente: os pais necessitam levar seus filhos aos parques pra terem liberdades. Já na minha infância éramos independentes para isso”, opina Kelly, fazendo uma analogia ao seu tempo.
O fato é que o mundo vem evoluindo e a cada dia, surgem novas tecnologias destinadas à infância. O importante é se divertir e aproveitar essa fase da vida, independentemente de como seja.
Para quem já é adulto e acha que não é mais hora de se divertir, Augusto Cury sugere que: “Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de você!”