A história do Chafariz e quem foi Cônego Tobias
Durante o século XIX, um dos grandes problemas que as cidades enfrentavam estava relacionado ao setor de abastecimento de água. Apesar da riqueza trazida pela economia cafeeira, o sistema de água não evoluiu na mesma proporção.
Trazer água potável para o centro de Pindamonhangaba era um problema crônico que a Câmara de Vereadores e seus integrantes não conseguiam sanar. Na ocasião, a Câmara era a instância máxima da administração municipal, uma vez que o cargo de Prefeito somente veio a ser definitivamente oficializado em 1899.
A principal fonte de água era o Rio Paraíba, porém tinham-se duas dificuldades: a insalubridade da água e a distância para quem morava longe de sua margem. Ou mandava-se os escravos abastecer os baldes ou o próprio munícipe teria que executar essa trabalhosa missão.
Dessa forma, o acesso à água, acontecia por meio de pequenos ribeirões que eram utilizados por todos, inclusive por animais. Inúmeras tentativas foram lançadas pelas autoridades, porém o custo para implantação de sistemas e chafarizes era altíssimo e como o orçamento não permitia a prioridade não conseguia ser atendida.
Segundo a belíssima dissertação de mestrado, “A Câmara Municipal e o Processo de Urbanização de Pindamonhangaba, 1840-1888”, apresentada este ano por Brenda Laisa Morais, em algumas situações a Câmara Municipal necessitava do auxílio dos moradores para a realização das obras de melhoramentos.
Conforme relatos, uma das bicas que vertia água para a região central de Pindamonhangaba, nessa ocasião, era a conhecida Bica do Tabahú, que já era retratada em tela, como a famosa aquarela de Thomaz Ender, em 1808, cujo original encontra-se no Museu de Viena.
Retomando à questão das doações da época, temos o registro no trabalho citado acima de doações de munícipes, como o exemplo de senhoras que doaram parte de seus quintais para a canalização dos ribeirões possibilitando a construção de um chafariz que beneficiaria os moradores do Tabahú e região.
Dessa forma a Bica do Tabahú, que já tinha saciado a sede de muitos viajantes, dentre eles, segundo conta-se, o regente Dom Pedro, que por ali passou com sua comitiva vindo do Rio de Janeiro para pernoitar em Pindamonhangaba, no caminho para o Grito do Ipiranga, transformou-se no Chafariz do Padre Tobias. Até meados do século XX, o local era o ponto de encontro de muitas lavadeiras que por ali conversavam, enquanto lavavam as roupas e toalhas de casa.
Ao longo dos anos diversas reformas foram realizadas como em 1.967, quando a Câmara aprovou a Lei nº 917 de 26/10/1967 abrindo crédito de NCz$ 1.500 cruzeiros novos para obras de reforma, coordenadas pelo mestre João Moreira Silva, que trouxeram novo estilo arquitetônico. A obra foi inaugurada durante as comemorações do Aniversário da Cidade do ano seguinte, pelo prefeito Francisco Romano de Oliveira, presidente da Câmara Vereador Alcides Ramos Nogueira e outras autoridades.
O Chafariz vem sobrevivendo ao longo dos anos e embora sua função de abastecer nossa população com água não mais seja utilizada, o espaço representa a memória de uma história que hoje buscamos retratar neste artigo.
Quem foi Padre Tobias?
Para ilustrar com um pouco mais de história, é bom citar que a denominação deste ponto histórico homenageia o sacerdote Pindamonhangabense, cônego Tobias da Costa Rezende, que nasceu em 1824 e durante muitos anos morou no casarão em frente ao Chafariz, onde hoje funciona a Casas Pias, que também recebe seu nome.
Ele também exerceu atividade política, elegendo-se deputado de 1870 a 1873 e aos 44 anos de idade, foi nomeado Vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso (Igreja Matriz), por onde permaneceu como responsável pela única paróquia da cidade por 30 anos, até a sua morte em 7 de agosto de 1898.
Interessante citar que Padre Tobias, embora mais velho, teve um grande laço de amizade com o Senador Dino Bueno (1854-1931). Sua mãe, Dona Constância, criou e sustentou os estudos de Dino Bueno por muitos anos. Após a morte do sacerdote, o advogado e político Dino Bueno comprou a casa, chácara e todos móveis da propriedade, preservando por muitos anos a feição e a presença do querido Padre Tobias.