História : A inauguração da eletrificação da EFCJ
Foi em 1924, que a ferrovia adotou a tração elétrica para movimentar suas automotrizes. A inauguração desse serviço foi notícia no jornal local (extinto) Folha do Norte (edição de 28/12/1924).
A FN destacou a presença do governador Carlos de Campos, vindo especialmente para o ato solene. A comitiva teria chegado em Pinda às 2h15, madrugada do dia 21 de dezembro daquele ano. O trem presidencial ficou em um desvio da Estrada de Ferro Central do Brasil e, pela manhã, após um chocolate servido pela direção da EFCJ, foram para Campos do Jordão, onde o governador declarou oficialmente inaugurada a eletrificação da ferrovia.
De volta a Pinda, o governador foi recepcionado como hóspede na residência do dr. Dantas da Gama. Em seguida, ele e seus assessores participaram de um banquete no salão nobre da Câmara Municipal, no Palacete Barão do Itapeva, que também sediava a prefeitura. Ali foi saudado em discurso proferido pelo dr. Alfredo Machado e agradeceu, exaltando a “Princesa do Norte” e seu povo.
Em continuidade ao programa festivo elaborado para comemorar a inauguração, houve sarau na casa do dr. Dantas da Gama. Com danças, música e muita palestra. O sarau prosseguiu até às três horas, quando o governador e sua comitiva tiveram que se despedir, pois haviam sido avisados que às 3h15 sairia o especial com destino à capital paulista.
O jornal Folha do Norte, órgão do Partido Republicano Municipal, tinha como diretor o próprio dr. Alfredo Machado, político local responsável pelo discurso de saudação ao governador. O redator-chefe era o dr. Dantas da Gama, que cedeu sua residência para a hospedagem e a realização do sarau em homenagem ao chefe de Estado.
A repercussão positiva da acolhida de Pindamonhangaba à comitiva do governo ficou comprovada na correspondência recebida pelo prefeito Benjamin da Costa Bueno e pelo presidente da Câmara, Manoel Ignácio Marcondes Romeiro, fazendo referências à memorável festa. Entre os telegramas destacava-se o do governador, endereçado ao presidente da Câmara:
“Cumpro agradável dever de renovar-lhe meus sinceros agradecimentos pelas muitas provas de atenção com que me cumulou nessa cidade quando aí estive em inauguração da tração elétrica da Estrada de Ferro Campos do Jordão – Cordiais saudações – Carlos de Campos”
Tração elétrica, o serviço
Naquela edição a Folha do Norte deu enfoque à visita do governador e aos festejos da inauguração, o serviço de eletrificação não foi comentado. Encontramos comentários a respeito da eletrificação ocorrida em 1924, em exemplar do jornal Tribuna do Norte, edição de 13/12/1931. O periódico divulga que a empresa responsável pela execução do serviço havia sido a The Electric Co. e que: “A corrente adotada foi a contínua, de 1.500 volts, em que se converte, na subestação da estrada, em Eugênio Lefévre, à corrente trifásica recebida da Light and Power sob tensão de 30 mil volts”.
A mencionada edição da Tribuna destaca o fato da adoção da tração elétrica ter aumentado a receita da ferrovia e constata o efeito positivo com as seguintes comparações: o número de passageiros, que em 1917 havia sido de 4.083, elevara-se para 96.553 em 1929 (em 12 anos); as mercadorias, em igual período, elevaram de 1.408 para 10.806 toneladas; a receita, de 23:013$500, em 1916, passara a 799:878$075 em 1929. E que os números só não continuavam sendo favoráveis à EFCJ devido a uma crise econômica que estava ocorrendo na época, prejudicando o exercício financeiro da ferrovia.
Usina Izabel
Em “As Ferrovias do Brasil”, de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo (Solaris Edições Culturais, São Paulo-SP, 2005), no capítulo referente à EFCJ consta que no início ela dispunha de duas locomotivas a vapor: Catarina e Piracuama; em 1916 estas foram substituídas por locomotivas a gasolina; em 1924, surgiram as automotrizes elétricas e posteriormente vieram “os bondes do extinto Tramway do Guarujá, que trafegam na ferrovia até hoje.”
Dos mesmos autores e editora, o livro Lembranças de São Paulo (publicado em 2003), na transcrição de um artigo de Mário de Sampaio Ferraz faz referência ao local de onde vinha a energia elétrica que fazia movimentar as automotrizes da ferrovia no ano de 1941. O autor se refere à histórica hidrelétrica Izabel, localizada em Pindamonhangaba, no sopé da Mantiqueira, adquirida em 1927 pela Light. Batizada de Izabel por um marido apaixonado pela esposa, essa usina utilizava-se das águas do ribeirão Sacatrapo, estancado a 2.200 metros de altitude (ver página de história da TN, edição de 23/9/2005).