História : A inauguração da luz elétrica em Pindamonhangaba (2)

A iluminação elétrica foi outro dos importantes acontecimentos ocorridos no município ainda nas primeiras décadas de 1900

No início de 1900, onze anos depois de estar presente na inauguração da água encanada, o jornal Tribuna do Norte estampou em suas páginas mais um importante melhoramento que o município acabava de receber: a instalação da luz elétrica. Página de História segue recordando esta passagem histórica para o município.

O êxito daquela festa ocorrida no dia 29 de julho de 1911, segundo revela a Tribuna (edição de 6/8/1911), é comemorado como vitória da administração municipal sobre os opositores políticos, que teriam tentado desacreditá-la perante o povo, fazendo resistência à concretização do feito.

Os festejos teriam início lá no alto da serra da Mantiqueira, com a benção daquela que seria responsável pela geração da eletricidade necessária à iluminação, a Usina Izabel, para onde então se dirigiram autoridades e munícipes.

Seguindo para a usina

Eram 5 horas da tarde quando os senhores vereadores Dr. Manuel Ignacio Romeiro – presidente da Câmara; Dr. Claro Cesar – prefeito; Albino B. Monteiro Junior – vice-presidente, e joão Alfredo – vice-prefeito; Antonio Avelino e José Moreira Cesar, que se tinham reunido na residência do Dr. Francisco Romeiro – deputado federal e presidente do diretório local, onde também se achavam hospedados os senhores: Dr. Fontes Junior – líder da Câmara dos Deputados Estaduais; Dr. Emílio Ribas – diretor do Serviço Sanitário do Estado; Dr. Victor Godinho – diretor do Instituto Bactereológico, – saíram encorporados procurando a Usina que para ser inaugurada tinha de receber a benção da igreja”, narrava o articulista da Tribuna.

Além dos nomes acima citados integravam o mencionado pelo jornal como sendo um “brilhante préstito”, funcionários municipais, populares e diversos outros distintos cidadãos locais dispostos a prestigiar a inauguração em todos seus atos e realizações.

Conta o jornal que a comitiva iniciou a caminhada pela cidade e “…ao passarem em frente ao jardim da Praça Monsenhor Marcondes uma banda de música ali postada saudou a Câmara tocando o Hino Nacional”. Depois, fez parada na porta da igreja Matriz onde a esperava para integrá-la, já devidamente paramentado , o vigário da paróquia, padre Ângelo Gazza e os senhores ”Dr. Valois de Castro – deputado federal; padre A. Della Via – diretor do Ginásio São Joaquim, de Lorena, e o padre A. Biscardi”.

Seguindo em frente pela rua da Matriz, então denominada Sete de Setembro (atual Deputado Claro Cesar), o cortejo ganhou a rua Marechal Deodoro e, em seguida, desceu pela rua do Porto (Mariz e Barros) em direção à usina Izabel.

Era de se ver a satisfação que se refletia em todo aquele povo. A chegada à Usina, em cuja frente se achava o Dr. Ricardo Villela, ladeado de seus incansáveis auxiliares e companheiros de trabalho, subiu ao ar uma enorme quantidade de foguetes, estourando ao mesmo tempo muitas e fortes baterias”, descrevia o redator da Tribuna.

A benção à Usina Izabel

Na usina as cerimônias religiosas presididas pelo vigário padre Gazza tiveram o acompanhamento dos padres Valois de Castro, Della Via e Biscardi. “As cerimônias não podiam estar mais solenes e pomposas; o reverendo padre Gazza não se limitou a rezar as respectivas orações, mas cantou-as todas, sendo auxiliado por seus ilustres companheiros. E como se compreende, isso veio a dar grande realce às cerimônias que se realizavam”.

O comportamento de profundo respeito demonstrado pelas pessoas durante a realização das cerimônias religiosas mereceu menção do jornal, que destacou: “Parecia que estávamos dentro de uma igreja, e não em uma oficina de trabalho”. Cabendo à irmã do prefeito Dr. Claro Cesar, a senhorita Emília Cesar ser a madrinha da benção à usina.

Abençoado o melhoramento que acabava de ser inaugurado em Pindamonhangaba, “…puseram-se todas as máquinas em movimento, aparecendo logo iluminada uma grande quantidade de lâmpadas que pendiam do teto do edifício”.
Prosseguindo, conta o articulista, foi oferecida “cerveja em profusão” aos participantes do ato inaugurativo “tendo sido tiradas algumas vistas fotográficas na ocasião em que o povo se retirava”.

Correu na melhor ordem a festa de benção da usina. O Dr. Ricardo Villela, empresário da iluminação elétrica em nossa cidade não pode deixar de estar satisfeito com o resultado obtido, principalmente considerando que o público reconhece seus serviços e sabe aplaudir os esforços do honrado industrial que nada procurou poupar para realizar o melhoramento com que nos dotou”, felicitou o jornal Tribuna do Norte.

Nota: Aqui é oportuna uma nota, uma curiosidade que intriga: a matéria publicada na Tribuna em nenhum momento se refere a utilização de algum a forma de condução na locomoção da cidade à serra. Acreditamos na existência de carroças, charretes e montarias nesse trajeto. Haja vista que a existência de automóveis em Pindamonhangaba, com certeza, era uma raridade nesse tempo.

  • Acervo San Martin. Usina Izabel na segunda metade do século XX