História : A Lavadeira
A mulher que estava ali perto do riacho, ajoelhada, bateu com força e repetidas vezes na tábua que tinha apoiada nas coxas um enrolado de roupas e, em seguida, num gesto cansado, atirou-o num montão alvo que estava ao lado.
Além, perto de um rancho de madeira, sua filha, sentada na relva, tinha o olhar longínquo, parado, a boneca esquecida no colo.
Pequena, cabelos muitos louros, sedosos, cismava. A boquinha entreaberta mostrava uma ponta de língua rosada que aparecia de vez em vez e que vinha umedecer os lábios ressequidos.
Depois, como se voltasse dum sonho, dum sonho muito triste, levantou-se, morosa, e trazendo a boneca presa por um braço, baloiçando, achegou-se de mansinho da mulher.
– Mãe, é verdade que papai morreu?
A lavadeira observou-a. Com uma das mãos quase fechada, cheia de espuma branca, levantou com o punho uma mecha de cabelo que lhe cobria os olhos, deixando aqui e ali pontinhos brancos nevando a cabeleira preta. E muito branda, perguntou:
– Por que dizes isso?
– A menina da casa rica me perguntou se não me sentia triste sem papai. Ela parecia tão feliz, tão alegre tendo o seu…
A mulher abaixou a cabeça, alisou vagarosamente a roupa sobre a tábua, tristonha.
– Tu não deves encher tua cabecinha com essas coisas, meu bem. Não és feliz comigo, com tua mãezinha?
– Muito, mamãe, muito!
– Então?… Não penses nessas coisas, filhinha. Vai brincar com tua Julia que a mamãe tem muito o que lavar, ouviste? Não fales assim porque teu pai, lá no céu não gosta de crianças tristes!
A menina deu-se por satisfeita. Sentou-se mais adiante e pôs se a brincar.
A lavadeira ainda ficou a considerá-la por algum tempo; e, num gesto rápido, como se afugentasse os pensamentos, meteu-se a trabalhar novamente.
Pobre menina! Se ela soubesse que seu pai, evocado assim tão ternamente a havia abandonado e à sua mãe, quando era muito pequena! Se ela soubesse que seu pai lhes deixara apenas aquele barracão! Se ela soubesse que seu pai ainda vive e pisa nesse mundo ingrato!