História : A morte do comandante da Guarda de Honra de D. Pedro I marcou o nascimento de uma Santa Casa
Aproveitando que estamos em setembro, mês em que há 196 anos foi proclamada a Independência do Brasil e, em tempo ainda, parabenizando a Santa Casa local pelos 155 anos de existência comemorados em agosto, fazemos dessas históricas sugestões o assunto da “Página de História da Tribuna” desta semana.
Segunda entidade mais antiga de Pindamonhangaba (6/8/1863), a primeira é a Coorporação Musical euterpe (22/8/1825), a terceira é o jornal Tribuna do Norte (11/6/1882), as raízes da Santa Casa de Pindamonhangaba perpetuam a história de um vulto histórico: Coronel Manuel Marcondes de Oliveira e Mello, o comandante da Guarda de Honra de Pedro I agraciado com o título de 1º Barão com Honras de Grandeza pelo imperador Pedro II.
Data duplamente
histórica
Para Pindamonhangaba o dia 6 e agosto, pelas memórias que entrelaçam, deve ser comemorado em dobro… Há 155 anos, no dia 6 de agosto de 1863, deixava o plano terreno, Manuel Marcondes de Oliveira e Mello, um dos mais ilustres filhos desta Princesa do Norte. Entre os títulos recebidos e grandes feitos realizados em sua profícua existência, destaca-se a participação ativa como comandante da Guarda de Honra do Príncipe Regente Dom Pedro I. Guarda organizada em Pindamonhangaba, no dia 20 de agosto de 1822, para aquela histórica jornada a São Paulo que resultou na proclamação da Independência do Brasil.
Atrelada à memória deste bravo e heróico cidadão, a data deve ser duplamente comemorada pelos pindamonhagabenses. O dia 6 de agosto de 1863 também marca o surgimento da semente que, apesar de dificultoso germinar, se manteve viva, consolidando a sua missão de ser uma casa onde, com a misericórdia divina, se salvam vidas…
Por conta de 20 contos de réis deixados em testamento com a finalidade de serem empregados na construção de uma Santa Casa em Pindamonhangaba, o velho coronel Marcondes de Oliveira e Mello marcou com a data de seu falecimento o limiar desta entidade, hoje moderno complexo hospitalar, localizado na esquina da rua Major José dos Santos Moreira com a Frederico Machado.
O Barão,
o comandante da Guarda de Honra,
o velho coronel
Assuntos relacionados a Manuel Marcondes de Oliveira e Mello e à Santa Casa já foram temas desta editoria do jornal Tribuna do Norte em diferentes ocasiões, entretanto, a data merece relembranças devido a sua significância como forma de culto e respeito a nossa rica história.
Para um resumo sobre o irrequieto e destemido coronel Marcondes, que foi soldado de farda e de fato, recorremos ao inesquecível historiador da região, o aparecidense José Luiz Pasin (1939 – 2008). De sua obra “Os Barões do Café – Titulares do Império no Vale do Paraíba Paulista” (Vale Livros, 2001, Aparecida – SP), usamos os seguintes dados referentesa Manuel Marcondes de Oliveira e Mello:
Nascido em Pindamonhangaba em 1776, onde foi Contratador dos Reais Dízimos da então Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso; capitão-mor das ordenanças da mesma vila; membro da Associação Maçônica “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”; comendador da Ordem de Cristo; coronel comandante do 1º Esquadrão da Imperial Guarda de Honra (por ocasiãoda coroação de Dom Pedro I, esteve no Rio de Janeiro comandando o 2º Esquadrão da Guarda de Honra).
Ainda em Pinda, foi vereador, Juiz de paz e ocupou sucessivamente os postos de sargento-mor, capitão-mor e tenente-coronel da Guarda Nacional do município; chefe do Partido Liberal em Pinda, apoiou a Revolução Liberal de 1842; comendador da Imperial Ordem da Rosa; agraciado pelo imperador Pedro II com o título de Barão de Pindamonhangaba e depois 1º Barão de Pindamonhangaba com Honras de Grandeza.
Seu primeiro casamento foi com Justina do Bom Sucesso, filha do capitão Custódio Gomes Varella Lessa (Barão de Paraibuna) e de Florinda Maria de Jesus. O segundo com Maria Angélica da Conceição Martins de Siqueira, viúva do capitão José Rafael e Maria Leme de Siqueira. Teve uma filha natural que se chamou Inácia Portes e entre suas propriedades destacavam as fazendas do Mombaça e Trabiju.
Santa Casa
Com relação às origens da Santa Casa, encontramos em um fragmento de um exemplar da edição de 5/5/1921 da Tribuna, que o seu surgimento, a data do início de suas atividades em Pindamonhangaba tem como data mais precisa o dia 24 de junho de 1865. Aliada a esta informação o fato histórico de que outros barões, até um visconde, participaram de sua fundação. Em um determinado parágrafo do referida edição vem nos a seguinte revelação:
“Em mil oitocentos e sessenta e cinco, o capitão Antonio Salgado Silva (da Guarda de Honra), depois Visconde da Palmeira; o capitão Gregório José de Oliveira e Costa; o capitão Ignacio Bicudo de Siqueira Salgado, depois Barão de Itapeba; o coronel Francisco Marcondes Homem de Mello, depois 2º Barão de Pindamonhangaba; o doutor Francisco Ignacio Homem de Mello, depois Barão Homem de Mello; doutor Miguel Monteiro de Godoy; doutor Manuel Marcondes de Moura e Costa e outros, puseram se à frente dessa nobre iniciativa contando desde logo com o valioso auxílio de vinte contos de réis legados para esse fim, em 1863 pelo coronel da Guarda de Honra, Manuel Marcondes de Oliveira e Mello, depois primeiro Barão de Pindamonhangaba. E essa casa foi inaugurada em 24 de junho de 1865.”
Sobre o primeiro local de funcionamento da Santa Casa, encontramos na edição de 9/8/1993, em conformidade com dados obtidos junto ao Arquivo Histórico Municipal Athayde Marcondes, que foi em um casarão, doação do capitão Alfredo de Paula Salgado, na antiga rua Humaytá (atual “Gregório Costa”), exatamente em local onde hoje passam os trilhos da estrada de ferro (MRS – Logística).
Foi nesse local que a Santa Casa teve o seu primeiro provedor, o dr. Miguel Monteiro de Godoy (advogado), e o primeiro corpo médico composto por: Antônio Pedro Teixeira, Marinômio de Brito e José Manuel da Costa França. Funcionou no casarão da Humaytá durante 11 anos. Em 1876, o prédio precisou ser desapropriado para dar passagemà Estrada de Ferro São Paulo-Rio de Janeiro.
Do centro da cidade a Santa Casa foi se instalar na ladeira Barão de Pindamonhangaba, que se chamava ladeira da rua Formosa. Sua nova sede passou a ser um casarão localizado pouco antes da esquina da ladeira com a rua Dr. Monteiro de Godoy, que se chamava rua dos Pescadores.
No artigo da Tribuna de 6 a 9/8/1993 consta que “um novo prédio foi arranjado tendo a administração recebido por doação”. Athayde Marcondes, em Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos, e Rômulo Campos D’Arace, em Retrato da Princesa do Norte, registraram que o prédio da ladeira pertencia ao dr. Antônio Pedro Teixeira e fora adquirido por compra.
Com o passar do tempo o atendimento naquele local foi se tornando cada vez mais precário. Era necessário um novo prédio, com dependências apropriadas, que pudessem satisfazer as necessidades do serviço médico, clínico e cirúrgico. A ideia dessa construção nascera em 1912, na provedoria do dr. João Romeiro (fundador do jornal Tribuna). Ano em que a diretoria da Santa Casa havia adquirido do major João Romeiro Filho, pela quantia de um conto de réis, uma gleba de terra próxima ao antigo Prado Pindamonhangabense, no final da rua Frederico Machado. Em 1921, a essa área foi acrescido o terreno onde fora o próprio prado, que teria sido doado pelos herdeiros de Cornélio Bicudo Varella Lessa, totalizando quase três alqueires (escritura lavrada em 1921).
Quatro anos depois, no dia 2 de fevereiro de 1925, a nova Santa Casa era inaugurada no local onde até hoje se encontra. Vinte anos depois, no período de 1945 a 1947, houve uma nova fase de ampliação em suas instalações, devido ao crescimento da cidade e, consequentemente, da população. Anualmente, a administração da Santa Casa inaugura nova melhoria visando melhor atender os seus usuários.
A Santa Casa de Pinda atualmente tem como provedor, Decio Prates da Fonseca.
Na direção administrativa, Camillo Alonso Filho.