A notícia da coroação da Padroeira do Brasil
Na edição de 20 de abril de 1902, o jornal Folha do Norte, extinto órgão da imprensa local, transcrevia para seus leitores pindamonhangabenses a seguinte notícia publicada no jornal Folha da Aparecida, de 12 de abril de 1902, referente à coroação de Nossa Senhora Aparecida com Rainha do Brasil:
“Resoluções importantes foram tomadas pelos bispos brasileiros em concílio secreto reunidos em São Paulo ultimamente.
Dessas agora transpira a que diz respeito ao Santuário d’ Aparecida e que pela sua importância interessará ao povo católico brasileiro.
Trata-se de ser levada a efeito, ainda este ano, a coroação de Nossa Senhora Aparecida, cuja poética e branca ermida se eleva em uma colina próxima à cidade de Guaratinguetá e é sítio a que concorrem incessantes romarias de fiéis, provindos de todos os ângulos do Brasil e interessados em pagar a sua dívida de gratidão à excelsa Virgem, que operou milagres a seu favor.
Este ato, pela primeira vez realizado no Brasil, e que pela sua solenidade excepcional despertará grande interesse, será celebrado por dez bispos e com assistência de um enviado extraordinário representante de S.S. o Papa Leão XIII.
A cerimônia far-se-á com todo o esplendor, e com todas as praxes e formalidades do ritual.
Sabe-se que para hospedar o representante do Papa, os bispos, o núncio apostólico e de mais altos membros do clero, que irão a Aparecida assistir a esse acontecimento, foi já adquirido por vinte contos de réis o edifício do Grande Hotel, no largo do Santuário, na Aparecida, o qual será ornamentado com luxo e mobiliado com o conforto necessário.”
A solenidade
de coroação
A coroação ocorreria, entretanto, somente no dia 8 de setembro de 1904.
Sobre esse dia, vamos encontrar na obra do padre Júlio J. Brustoloni: A Senhora da Conceição Aparecida – História da Imagem da Capela das Romarias (Editora Santuário, Aparecida, SP- 1979) que “Num povoado de apenas 2.000 habitantes, realizou-se a maior concentração religiosa do povo acontecida no Brasil após a proclamação da República”.
Registra padre Brustoloni, baseado em uma extensa e inquestionável bibliografia:
“… desde às três horas da madrugada, padres e bispos peregrinos celebravam missas no altar-mor e nas laterais. Os cânticos e as preces dos fiéis elevavam-se em vozes uníssonas, um espetáculo maravilhoso que contagiou a multidão…”
Pela manhã, peregrinos de São Paulo e de cidades da região vale-paraibana se juntaram na estação e, em uma longa procissão, caminharam em direção à praça do Santuário, onde foram saudados por Dom José de Camargo.
Após a missa e a comunhão, ali pelas 9 horas, narra Brustoloni, “sai do convento o cortejo dos bispos e sacerdotes em solene procissão para o altar monumento, montado no adro da igreja. Muitos sacerdotes precediam a procissão, depois, os 14 prelados e por fim, precedidos pelos ministros e pelo padre Gebardo Wiggermann, trazendo numa almofada a coroa de ouro, o núncio apostólico Dom Júlio Tonti, que iria celebrar o solene pontifical.”
Encerrada a solene pontifical e a consagração à Nossa Senhora, foi feita a leitura do documento do Cabido de São Pedro e o cerimonário anunciou a Solene Coroação da Imagem.
“Um silêncio profundo cai sobre a multidão, enquanto Dom José de Camargo, bispo de São Paulo que fora delegado pelo arcebispo Dom Joaquim, sobe os degraus até o trono onde se encontrava a imagem e com a coroa de ouro cravejada de rubis e diamantes doada pela princesa Isabel, coroou solenemente a imagem. E o povo prorrompe espontaneamente num uníssono viva a Nossa Senhora Aparecida. O relógio da torre, como anunciou o cronista, marcava 11 horas e 42 minutos.”
Em seguida, foi inaugurado o monumento da Imaculada na praça e, à tarde, realizada a procissão na qual bispos, sacerdotes e o núncio apostólico Dom Júlio, conduziram a Imagem Majestosa acompanhados de uma multidão de fiéis.