História : A perigosa passagem de nível do Curtume

Esta é uma lembrança da Pindamonhangaba dos anos 20 do século passado. O acontecimento relembra uma antiga e perigosa passagem de nível que, acreditamos ser aquela eliminada pela construção do viaduto na avenida Fortunato Moreira, no início dos anos setenta

Com o título “A Central – A passagem do Curtume”, o jornal Tribuna do Norte, edição de 18/4/1920, em artigo de primeira página, aproveitava-se do fato de a Estrada de Ferro Central do Brasil apresentar um novo diretor, o Dr. Assis Ribeiro, para publicar uma antiga reivindicação à ferrovia. Seria pela quinta vez, esperava-se fosse a última.
O jornal era a voz da população reclamando urgente providência referente à falta de segurança que se verificava para as pessoas que precisavam atravessar a linha nas proximidades do Curtume (via que segue para o bairro Cidade Nova). A queixa ressaltava o perigo da travessia. O risco de perda da própria vida àqueles que se aventuravam a tal.
O redator TN da época dizia ser justíssimo o pedido à Central em favor das pessoas que transitavam por aquela estrada e não tinham outra alternativa se não a de atravessar a linha, correndo o perigo de serem apanhadas pelos trens de carga, cujo horários se desconhecia. “Os maquinistas não dão os respectivos sinais, ali não há guardas, não há porteiras, só há um grande perigo para quem passa por aquele ponto”, afirmava.

Travessia perigosa

Para ilustrar a queixa com provas, a Tribuna citava algumas vítimas da falta de segurança naquela passagem de nível: “o ano passado o capitão Francisco Eufrásio de Toledo quase foi apanhado pelo trem quando atravessava a linha de troly (charrete), escapando da morte milagrosamente; antes desse desastre a máquina apanhou um carroção, matou dois bois pertencentes à fazenda Jatahy, deste município”.
Também era mencionado outro acidente que por muito pouco não acabou em desgraça. Desse, quase se tornou vítima o inspetor escolar João Alfredo dos Santos. Ele regressava de Moreira Cesar depois de suas visitas às escolas do município quando, naquela passagem de nível, quase foi apanhado pela “máquina”, que causou ferimentos na cabeça dos animais que puxavam seu troly (charrete).
Para o redator da TN, foi milagre o inspetor haver escapado com vida. Tudo por conta do descuido do maquinista que não tinha apitado antes de atravessar a estrada.
E complementava: “Se fossemos enumerar os desastres que se deram naquele ponto indicado e em outros, dentro do perímetro da cidade, atravessados pela linha, teríamos que perder tempo”.
As reclamações anteriores à direção da Estrada de Ferro Central do Brasil não haviam dado resultado. Nem a de Pindamonhangaba nem a de outros municípios vizinhos com problemas semelhantes. Entretanto, destacava a Tribuna: “souberam atender aos interesses da… Central, aumentando o preço de fretes e passagens”.
Voltando à reivindicação, em nome da população, a imprensa local “pedia, rogava, implorava” ao novo diretor da ferrovia, “urgentes providências no sentido de se estabelecer uma porteira, uma ponte, ou colocar guardas para evitar futuros desastres.”
A devida providência por parte do novo diretor, o Dr. Assis Ribeiro, atenderia, conforme afirmava o articulista do jornal, “…centenas de pessoas que por ali transitavam, principalmente às quintas-feiras e aos domingos”.
E concluía o artigo lembrando a direção da EFCB que a estação de Pindamonhangaba era uma de mais movimento naquele trecho e “uma insignificante despesa que se faça na travessia da estrada do Curtume não prejudicaria os cofres dessa via férrea”

Nota. No momento, ignoramos se a reivindicação foi atendida, porém, na continuidade de nossas pesquisas no Arquivo TN, quaisquer novidades sobre o assunto serão divulgadas nessa página de história.

  • Animais eram vítimas constantes das passagens de nível nas primeiras décadas do século XX - Créditos da imagem: OsMais - Foto meramente ilustrativa