Lembranças Literárias : A Seca
Publicada dia 14 de fevereiro de 2019
Chora a campina o fenecer das moitas,
que o sol dardeja com volúpia ingente.
Aves famintas esvoaçando afoitas,
fogem da luz abrasadora e ardente.
Sumiu do espaço madrigal aroma,
que as auras sopram no floral dos campos.
Não tem a aurora aquela luz que assoma,
com brilho intenso de fulgor mais amplo.
No céu; à noite não se vê esteleiro;
tudo está seco, tudo está nublado;
denso mormaço pelo vale e outeiro…
Seca a pastagem, lamentoso o gado;
do astral silente se escondeu o cruzeiro,
braços de fé deste Brasil amado!
Tito Cardoso, jornal local Folha do Norte (extinto), 8 de junho de 1908