História : A segunda-feira que o comércio da Pinda antiga amanheceu em chamas
Ainda entre as publicações do jornal Tribuna do Norte relacionadas ao sensacionalismo temos um fato interessante ocorrido em julho de 1921: o incêndio de um estabelecimento comercial localizado na região central da cidade.
A edição de 21/7/1921 divulgou a notícia do sinistro acontecimento com o título: “Pavoroso incêndio – A ‘Casa Comercial’ é devorada pelas chamas”. Em seguida, o jornal acrescenta “Os soldados do Corpo de Trem”, fazendo referência aos militares da unidade militar do Exército instalada no município naquele tempo, o 2º Corpo de Trem. Pindamonhangaba só viria a contar com uma unidade do Corpo de Bombeiros, 62 anos depois, em 1982.
O início das chamas
O jornal Tribuna do Norte assim contava o trágico ocorrido:
“Na madrugada de domingo último para segunda-feira, pelas três horas, mais ou menos, manifestou-se violento incêndio na Casa Comercial de propriedade do Sr. João Alves de Mello, honrado negociante estabelecido há anos nesta cidade, à rua 7 de Setembro, antiga rua dos Andradas”. Não confundir com a atual rua 7 de Setembro (a da praça inaugurada recentemente próxima à passagem de nível). Aqui é oportuno ressaltar que na Pindamonhangaba da primeira metade do século XX os político em exercício trocavam facilmente as denominações das vias e logradoros públicos. Depois de haver mudado de rua dos Andradas para 7 de Setembro a rua à qual estamos nos referindo passou a ser (não mais mudando): a atual rua Deputado Claro Cesar.
Segundo o redator da Tribuna da época, dado o alarme do incêndio, a vizinha moradora em frente à loja incendiada avisou o Sr. Antonio Brandão, proprietário do Hotel Brandão, que solicitou ajuda do 2º Corpo de Trem.
O comparecimento dos soldados foi imediato, porém, apesar de seus esforços para combater as chamas que ameaçavam destruir tudo, faltava-lhes o essencial… a água! Conta que eram tão fortes as labaredas que o forro e o madeiramento do telhado foram num instante atingidos, tudo desabando em questão de minutos.
Os valentes soldados da unidade do Exército Brasileiro aqui aquartelados conseguiram, no entanto, com grande dificuldade, salvar a “burra” (denominação dada à caixa que servia de cofre) e também algumas mercadorias.
Unidos contra as chamas
O articulista TN assim prossegue em sua narrativa do acontecimento trágico: “O Sr. Luiz Bocco, os valorosos soldados do Corpo de Trem, empregados da Câmara e populares lutavam contra as chamas dentro do próprio edifício, entre uma fumarada enorme, mas tudo faziam inutilmente , porque a água, infelizmente, não era bastante para dominar o incêndio”.
Eram já 5 horas e o fogo continuava a devastar tudo, rebentavam-se garrafas, barris de bebidas; de vez em quando ouviam-se fortes estampidos que faziam voar pelas ruas inúmeros estilhaços, fragmentos de telhas, que já cobriam grande parte dessas mercadorias”.
Pelas seis horas, já as ruas adjacentes estavam repletas de populares que assistiam apavorados a continuação do incêndio, que de forma alguma podia ser dominado”.
Entre as providências tomadas pelas autoridades do município destacaram-se: a iniciativa do presidente da Câmara, Dr. Alfredo Machado, mandando colocar sobre as paredes, que ameaçam desabar, grandes e grossos caibros (serviço feito pelos próprios funcionários da Câmara); o delegado Dr. Octacílio Rodrigues Paes (interino) ordenou aos policiais que dispersassem os curiosos e colocou guardas nas esquinas da Praça Monsenhor Marcondes e da avenida Fernando Prestes, proibindo o trânsito de veículos “para não interceptar o serviço, nem pisarem sobre os condutores de borracha que atravessavam a rua”.
As horas passavam e as chamas continuavam , “eram dez horas quando os soldados tentaram revolver todo aquele montão de objetos ainda não atingido pelo incêndio, mas nada conseguiram. Espalharam então pela rua objetos de ferro, bronze, latas que continuavam intactas, barris de bebidas, barricas etc.”.
Segundo o jornal Tribuna, a origem do fogo era desconhecida, mas eram muitas as versões e comentários que circulavam entre o povo. De concreto mesmo era sabido que o proprietário da casa incendiada havia notado que uma escada que se achava fora do armazém fora encontrada em diferente lugar, e que o portão contíguo ao estabelecimento estava aberto. Isso levava a desconfiar que ali penetrara um ladrão e que, ao sair, deixara a luz que usava ou algum fósforo aceso, o que teria provocado o fogaréu.
Segundo o jornal a casa e as mercadorias estavam seguradas na Companhia “Aliança da Bahia”, da qual eram agentes em Pindamonhangaba os senhores Vieira Ferraz & Cia.
O incêndio não foi criminoso
Em sua edição posterior, a Tribuna dá a notícia da chegada ao município do senhor Dorival Augusto da Silva, representante da “Aliança Bahia”, companhia da qual a casa incendiada era uma das seguradas.
O referido visitante teria feito um rigoroso inquérito e o delegado inquirido cinco ou sete testemunhas, ficando provado que o incêndio fora casual.
O prejuízo teria sido calculado pelo proprietário em 70 contos de réis. “A companhia, que é uma das mais importantes do Brasil, vai pagar a quantia de 50 contos, importância do seguro feito pelo proprietário da Casa Comercial”, destacava a Tribuna, complementando que “…foram postas em leilão todas as mercadorias que puderam salvar do incêndio, bastante avariadas”.
Agradecimento da Tribuna
O jornal Tribuna do Norte não deixou de destacar a gratidão aos que combateram o fogo na loja: sargentos, duas esquadras de cabos e os soldados do 2º Corpo de Trem, cujo comandante era o major Armando de Paiva Chaves; sargento Ovídio Lacomba, comandante da Força Pública que atuava em Pinda, demais civis envolvidos voluntariamente no combate às chamas.