História : A Semana Santa na Pinda de antigamente
Há 133 anos, Antonio Vieira de Oliveira Neves, o barão de Taubaté, era encarregado de promover a solenidade da Semana Santa na paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Para a realização dos festejos, em nota publicada na Tribuna do Norte (edição de 6/4/1885), ele solicitava a cada membro da congregação dos fiéis devotos a quantia de 100$000 de contribuição. Pedia também que as pessoas que costumavam se vestir de anjos se apresentassem em maior número possível para as procissões do Enterro e Ressurreição; convocava os irmãos do Santíssimo Sacramento para comparecer aos atos religiosos, em especial às procissões, convidando também as irmandades do Rosário e São Benedito. A programação para comemorar a Semana Santa havia sido elaborada pelo barão e o vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso, cônego Tobias da Costa Rezende, e constava dos seguintes eventos religiosos:
Sábado de Ramos. Naquele sábado, 5 de abril , às 19 horas os sinos da matriz dobrariam anunciando a reunião do clero, irmandades e fiéis, que deveriam acompanhar a Sagrada Imagem do Senhor dos Passos, a qual, pelas 20 horas, sairia em direção à igreja do Rosário (templo que existia na praça Dr. Francisco Romeiro, popular Largo do Cruzeiro), ali permanecendo até o dia seguinte, quando sairia em procissão.
Domingo de Ramos. Pela manhã, às 9 horas, os sinos da matriz começariam a ser tocados (sinal de costume) para que, uma hora depois, tivesse início a Bênção das Palmas, a procissão e a missa do dia. Às 16 horas, novo sinal de sinos para que o clero, irmandades e fiéis ali se reunissem e em seguida se dirigissem até a igreja do Rosário onde seriam dados os três primeiros passos, sendo o primeiro no altar mor e os dois seguintes nos laterais. Após este ato, sairia a Procissão dos Passos (aqui é oportuno ressaltar a curiosidade referente ao itinerário da procissão, às ruas tinham outras denominações) . O cortejo faria o seguinte percurso: rua dos Três Andradas (a atual rua dos Andradas) em direção ao Largo da Imperatriz (Largo São José), onde em frente à igreja São José se daria o encontro de Jesus Cristo com sua Mãe Maria Santíssima que, previamente, sairia da igreja matriz acompanhada por um sacerdote e percorreria as ruas 7 de Setembro (Deputado Claro Cesar), Riachuelo (Dr. Monteiro César) chegando ao referido logradouro.
Na chegada da procissão, Sermão do Encontro pelo padre João Batista de Oliveira Salgado e, em seguida, seria dado o 4º passo, este no altar mor da igreja São José. Dali, sairiam as sagradas imagens pela rua Andrade Neves (Dino Bueno) até a rua Conde D’Eu (Prudente de Morais) seguindo até a matriz, onde se daria o 5º e o 6º passos nos dois altares laterais vizinhos do coro, e o 7º e último passo no altar mor, junto ao Calvário, ocorrendo então o sermão que seria pregado pelo padre Claro Monteiro.
Quarta-feira de Trevas. Às 16 horas, os sinos da matriz começariam a anunciar que às 17 horas teria início os Ofícios de Trevas.
Quinta-feira Santa. Às 10 horas, sinos convidando para a missa das 11, quando haveria comunhão geral e procissão no interior da igreja matriz, ficando o Santíssimo Sacramento no Santo Sepulcro, guardado pelos respectivos irmãos até o final da missa do dia seguinte, conforme nominata afixada na porta da sacristia. Às 16 horas, correria a matraca anunciando as cerimônias do mandato (lavapés) que teriam início às 17 horas, ocasião em que pregaria o vigário Miguel Marcondes do Amaral. Terminadas essas cerimônias, após um intervalo de meia hora, seguiriam-se os Ofícios de Trevas.
Sexta-feira Santa. Às 8 horas, matraca anunciando a Missa dos Presentificados que começaria às 9 horas, seguindo a Paixão e depois sermão com o padre Claro Monteiro; às 16 horas, matraca anunciando o Ofício de Trevas marcado para às 17 horas e, após esta solenidade, saída da Procissão de Enterro, que percorreria as seguintes vias e praças públicas: rua da Independência (Bicudo Leme), Largo da Princesa Imperial (praça Padre João de Faria Fialho, Largo do Quartel), rua dos Três Andradas (dos Andradas) , Largo da Imperatriz (Praça Barão do Rio Branco – Largo São José) , Andrade Neves (Dino Bueno), Carlos Gomes (Marechal Deodoro), travessa Duque de Caxias (Visconde de Pindamonhangaba) e rua Independência (Bicudo Leme) em direção à matriz, onde haveria sermão com o vigário Miguel Marcondes do Amaral, seguindo-se da adoração das sagradas imagens do Senhor Morto e sua Mãe Santíssima.
Sábado Santo. Às 9 horas, matraca anunciando as cerimônias do Fogo Novo, preconização, Benção da Pia e missa do dia.
Domingo da Ressurreição. Às 14 horas, repicar festivo de sinos anunciando a procissão do Santíssimo Sacramento, marcada para as 15 horas, saindo da igreja Matriz para o segundo percurso: rua da Independência (Bicudo Leme), Largo do Rosário (Largo do Cruzeiro), rua dos Três Andradas (dos Andradas) até o cruzamento com a rua 7 de Setembro (a Deputado Claro César)onde ocorreria o encontro da Virgem Santíssima com seu amado Filho Sacramento; em seguida, trajeto pela rua dos Três Andradas até a Senador Feijó (Fernando Prestes), travessa Barão do Amazonas (rua que ligava a Prudente de Morais à Marechal Deodoro (onde foi construída a praça Campos Maia e o prédio do Fórum), rua Carlos Gomes (Marechal Deodoro) chegando à matriz pela rua Deputado Claro Cesar. Na matriz, atual Santuário Mariano e Diocesano Nossa Senhora do Bom Sucesso, missa solene com o Senhor Exposto, pregação do Evangelho pelo reverendo João Batista de Oliveira Salgado. Após a missa, acompanhada de um sacerdote, sua irmandade e fiéis, a imagem de Nossa Senhora do Rosário sairia em direção ao seu templo, onde também seria celebrada uma missa.
Nota. Antonio Vieira de Oliveira Neves, o Barão de Taubaté, era taubateano casado com a pindamonhangabense Francisca Leopoldina de Oliveira Marcondes, filha do monsenhor Inácio Marcondes de Oliveira Cabral, o Monsenhor Marcondes. Residia em Pindamonhangaba, no célebre sobrado (esquina da ‘Deputado Claro Cesar’ com rua dos Andradas) que pertencera aos irmãos Marcondes, onde pernoitou Pedro I antes da viagem que resultou na proclamação da Independência.