Nossa Terra Nossa Gente : A senhora e o jardim: Música Erudita e poesia no Teatro Galpão
“A arte existe porque a vida não basta.” É o que afirmou Ferreira Gullar ao definir a arte como descoberta e invenção da vida. Esse sentimento mais do que humano, que só a arte é capaz de nos propiciar, tomou-me o corpo e a alma por inteiro quando ouvi as composições do tecladista Bruno Henrique, criadas especialmente para o espetáculo “A Senhora e o Jardim” – e, de modo especial, quando tive o privilégio de ler o texto poético escrito a quatro mãos por Ricardo Estevão e Bruno Henrique para esse espetáculo litero musical. É mister afirmar: o que eu ouvi e li é Arte, com ‘A’ maiúsculo! Arte para elevar nossos pés do chão! Arte para nos devolver o verdadeiro sentido da vida!
Vida, espetáculo tecido como uma colcha de retalhos no tempo, uma sucessão de instantes – memória e esquecimento.
A ideia desse espetáculo líteromusical tem sido gestada por Bruno Henrique desde 2014, quando o jovem músico sonhou compor alguma coisa grandiosa para piano e corda, aos moldes das clássicas composições de Tchaikovsky e, assim, realizar o sonho de dar continuidade à música erudita brasileira. Com esse fim, arregimentou o conceituado maestro da Banda Euterpe, Marcos Souza, para regente da camerata que dará o tom às onze composições de “A Senhora e o Jardim”, tendo Rodrigo Salles ao piano; Tiago Oliveira no violoncelo; Luís Umberto no contrabaixo; Ronilson Misael na viola; Diego Rosa e Guima Esley na percussão; e, no quarteto de violinos, Eloísa Rocha, Viviane Queiroz, Lucas Pontes e Lucas Rodrigues.
Música, luz inconfundível no mais escuro breu.
O espetáculo de música erudita e de poesia conta também com a participação especial da premiadíssima intérprete Rhosana Dalle, que, é sabido de toda gente, quando tem o palco sob seus pés, eleva a plateia do chão. Esse seu reconhecido carisma garantiu-lhe a narrativa da história dos personagens centrais do enredo – a médica Clarice, seu marido Rodrigo e, de modo especial, a voz narradora da história (cuja identidade é revelada somente ao final).
Clarice: afago, alívio, restauração;
Mãos generosas, flor luminosa no meio da escuridão.
Sua vida era um jardim de beleza única,
como é ou deveria ser, toda infância:
canteiros de sonho, pétalas de esperança!
Em síntese, qual é o traço marcante das composições musicais e do texto poético de “A Senhora e o Jardim” presente nos fragmentos colhidos nesse jardim de versos? O amor, digamos, e um amor que o compositor e os autores distribuem quase sem sentir, amor no sentido pleno de que fomos criados: à imagem e semelhança do Criador!
Amor, água inesgotável, vida que não míngua.
Aos que desejarem encerrar o mês de janeiro sentindo o perfume desse jardim de música erudita e de poesia, teremos neste domingo, 26 de janeiro, às 19 horas, no Teatro Galpão, uma única apresentação. Os ingressos estão à venda na Escola Satori (Rua General Júlio salgado, 214) e também na loja Anima Games (Travessa Guayanazes, 69, Chácara Galega). Aos que se interessarem, a partitura e o livro com o texto de “A Senhora e o Jardim” também estarão à venda no dia do espetáculo no Teatro Galpão.
Quantos sonhos o peito precisa ter
para compor uma vida que possa ser
a vida que merecemos todo dia?
Que esse admirável sonho do prodigioso Bruno Henrique, partilhado pelo célebre escritor pindamonhangabense Ricardo Estevão, pela talentosa intérprete Rhosana Dalle e por essa seleta camerata de piano e cordas, inspire outros sonhos, outros músicos, outros escritores, outros intérpretes, outros espetáculos como o de “A Senhora e o Jardim”, para que possamos propiciar aos homens, mulheres, jovens e crianças de nosso tempo o banquete da arte, alimento vital para a nossa tão ameaçada humana existência.
Eu (…) aprendi que são muitas as histórias que compõem nossa existência.
E que é preciso viver cada uma delas, com coragem e paciência
a partir do sonho que houver no peito.