Lembranças Literárias : À tardinha
Publicada dia 25 de abril de 2019
Adejava no ar uma andorinha
que os insetos voláteis perseguia.
Ora subia mais, ora descia,
bafejada das auras da tardinha.
Tanto voou que foi se uma peninha,
que em lugar de baixar, sempre subia,
e para reavê-la se esvaia,
pois a pena, subindo, não lhe vinha.
Vendo-a enfim, se perder na infinidade,
a avezinha desceu e, soluçando,
carpiu no ninho as mágoas da saudade.
Assim, como a andorinha, fiz também,
quando vi meu amor, asas ruflando,
para sempre de mim sumir-se além.
Cassio Rezende, jornal Sete Dias, 15 de dezembro, 1968