História : Acróbata da dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, enfiado
de uma ironia e de uma dor violenta,

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta gravoche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta…

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! Retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço…

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço…

Cruz e Souza,
Tribuna do Norte, 1º/6/1930

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