Vanguarda Literária : ADOLESCÊNCIA E LUTOS

Nós, os considerados adultos, no mais das vezes, temos dificuldade de entender a Adolescência ( período da vida entre a infância e a adultície, compreendida entre os dez e vinte anos, segundo a Organização Mundial de Saúde ) e o que é comportamento normal na Adolescência.
Esse processo é um modo inconsistente e imprevisível de agir com dualidade: ser exemplo e ao mesmo tempo egoísta; aproximar-se e afastar-se dos pais; ter bruscas mudanças de humor, desejo de independência e medos da liberdade; súbitas e intensas paixões que são poucos duráveis, enfim, é um ser vivendo múltiplas possibilidades na sua dura perigrinação em busca da identidade adulta.
Ë importante ressaltar que essa identidade, na nossa sociedade industrial só se estabelece mediante um processo de crise e de luto. As crises são normais, benéficas, auxiliam a encontrar o seu próprio jeito de ser, e que , muitas pessoas ( pais, professores, amigos mais velhos) podem auxiliar o adolescente ouvido o que ele sente.
Cumpre ressaltar que, também na procura da identidade, esses seres ( frágeis e fortes ) passam por muitas PERDAS ou LUTOS como passaremos a explicar:
1-LUTO DO CORPO INFANTIL – Às vezes os jovens não estão preparados, ou até não estão desejando o corpo que vais se transformando ( pelos seios, pela voz e genitália ) , mudanças essas determinadas em função dos hormônios. Esse luto é doloroso, visto que há a perda da postura da criança e ganha a do adulto. Torna – se o adolescente um mero espectador ante as transformações do corpo.
2-LUTO PELOS PAIS DA INFÂNCIA – Agora, nessa fase da vida, os adolescentes se interrogam: onde estão os meus pais bonzinhos da infância, que só cobram e exigem que eu me comporte como adulto ? É importante deixar claro para esses adolescentes que os pais, ao tentar ensinar-lhes normas de conduta, não deixaram de amá-lo; convém esclarecer que os seus pais foram ensinados de outro modo ( até rígido ) , e repetem com os filhos o mesmo padrão.
3 – LUTO PELA BISSEXUALIDADE PERDIDA – Ora, quando criança não necessitamos de função sexual no sentido biológico. Somos meninos e meninas, mas não necessitamos de uma identificação masculina ou feminina tão forte. Na adolescência há a cobrança da sociedade a impelir os jovens a uma definição. Nessa fase, surgem os grandes conflitos, motivados pela exigência sexual: pai que quer a “grande performance” no desempenho da sexualidade do filho ( tem que ser o forte, o viril, o conquistador) , ou a mãe que “treina “ a filha para ser frágil, a sedutora, a caça a ser conquistada. Isso é confundir sexualidade ( que, é o gostar do outro, o sentimento, o respeito ao corpo e, por fim, o ato sexual em si, como mostram os adolescentes em nossos cursos de Educação em Saúde, nas Escolas Estaduais que realizamos há alguns anos em Escolas Estaduais do nosso município ) com o sexo, entendida na sua forma de genitalidade, o que denominamos de “reducionismo da sexualidade” a qual, em última análise, é uma bela expressão psico – afetiva.
4 – LUTO PELA EXOGAMIA – É aquele momento da separação da família e dos pais. É o deslocar o interesse do jovem pelas figuras substitutivas. É uma separação relativa. Esse separar-se não significa nunca mais estar junto, mas, sim, estar por si mesmo.
Após essas rápidas explicações, constatamos que esses LUTOS são dolorosos, são etapas difíceis, que devemos procurar o seu entendimento. Será que nós não passamos por esse processo ? Entendamos que os nossos adolescentes são seres gregários , gostam do seu grupo, pois estão no mesmo barco, passando as mesmas dificuldades, e, é um desafio para nós, pais, conquistar esse grupo , dialogar com ele, sentir os seus anseios, utilizando do diálogo franco e amigável.
A nossa coexistência com os adolescentes se torna cada vez mais difícil e desafiadora em função das imensas transformações sociais em que vivemos, para as quais devemos estar atentos, num exercício de reflexão . O fato é que, sofremos também os nossos LUTOS , não tenhamos dúvidas quanto a isso !