Nossa Terra Nossa Gente : AGOSTINHO SAN MARTIN FILHO: RETRATOS DE UM HOMEM GENTIL

Filho de imigrantes espanhóis que aportaram na estação de Pindamonhangaba em maio de 1901, Agostinho San Martin Filho (1896 – 1969)encontrou na Princesa do Norte não só um povo hospitaleiro, que acolheu seus progenitores e irmãos, como, também, o porto seguro para a prosperidade da família: trabalho e amigos.

Desde menino, ‘Tininho’ ajudava o pai, o confeiteiro Agustin San Martin Aldea, na Padaria Central, ora entregando os pães na casa dos fregueses, ora ajudando-o na Fábrica de Balas Princesa do Norte ou na Torrefação de Café – negócios esses empreendidos pelo pai na Pindamonhangaba da primeira metade do século 20.

A grande paixão do jovem Agostinho era Engenharia Mecânica. Não tendo condições de custear o estudo almejado, construiu, com o aval dos pais, uma oficina no fundo da padaria-residência da família e, com afinco, trabalhou na idealização da ‘Machina San Martin’ para abrir pão (1920), na máquina de modelar pão (1933) e na de fazer biscoitos e bolachas (1935).

O padeiro de gênio inventivo projetou também uma máquina para infusão de café com coador de pano, a ‘Bandeirante’. Com seus inventos patenteados e comercializados, intencionava apressar o serviço nas padarias e reduzir os gastos com a mão de obra.

A capacidade empreendedora de Agostinho levou-o a idealizar um álbum de figurinhas da “Cidade de Pindamonhangaba”, oferta dos produtos San, produzidos na sua fábrica de massas finas, pães, biscoitos e bolachas, e distribuídos na Padaria Central, no Bar e Leiteria Avenida e, também, na Panificadora Princesa (de seu genro, Aníbal Leite de Abreu).

“Só que as figurinhas foram substituídas por retratos, que ele tirava dos prédios, logradouros públicos, casas e ruas de Pindamonhangaba. As fotos eram acondicionadas nas embalagens de biscoito. Cada saquinho do seu famoso biscoito levava uma foto, formando um álbum, hoje documento histórico da cidade”, relata Júlia San Martin Boaventura, filha de Agostinho e autora do livro ‘Uma Família Espanhola’ (1995).

Cem anos depois, esse acervo fotográfico da ‘Cidade de Pindamonhangaba” foi doado ao seu bisneto, o fotógrafo Lucas Leite, que, por ora, realiza um minucioso trabalho de digitalização e revelação dos negativos de vidro e de acetato. Futuramente, pretende divulgar essa preciosidade em exposições fotográficas, livros, documentários e, quiçá, um novo álbum de retratos capturados pelo ‘O olhar de um homem gentil’ – como Lucas poeticamente intitulou o projeto do acervo do bisavô.

Além das fotografias, as filmagens de eventos históricos de Pindamonhangaba foram profundamente cultivadas pelo espírito inovador de Tininho, que as fazia com câmeras de 8mm e 16mm e, cujos rolos de filmes também foram preservados. A qualidade técnica desse material é impressionante e, indescritível é o valor histórico desse acervo para nossa terra e nossa gente!

Além desse tesouro imagético de Pinda antiga, Agostinho também fotografou os amigos e instantes maravilhosos das filhas (Dirce, Helena, Elza, Ignez e Júlia) e da esposa Benedita.

Ensina-nos Júlia que “os fios que assinalam os caminhos, veredas e estradas de nossa existência cruzam-se, separam-se, distanciam-se, mas algo faz com que não se percam definitivamente.

”Nessa trama histórica da família San Martin em Pindamonhangaba, as fotografias de Agostinho não se perderam e, nas mãos de seu bisneto, revelam o invisível: o amor e a gratidão desse filho de imigrantes espanhóis pela cidade em que ele semeou o bem, a bondade, a solidariedade e, sobretudo, uma descendência de mulheres e homens notáveis que herdaram de seus antepassados o talento para o trabalho, a sensibilidade para a arte e… o olhar gentil desse patriarca–paulistano de nascimento e pindense de coração!

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