Vanguarda Literária : AS TROVAS SATÍRICAS DE EMÍLIO DE MENEZES

O renomado intelectual e acadêmico (Academia Paulista de Letras) Raimundo de Menezes, biógrafo de prestígio e talento, escreveu um livro célebre sobre um dos maiores poetas brasileiros : ”EMÍLIO DE MENEZES, O ÚLTIMO BOÊMIO”. Possuidor de uma verve invejável, jornalista de primeira linha, o paranaense EMÍLIO DE MENEZES marcou época, num momento da nossa literatura em que pontificavam Olavo Bilac, Pardal Malet e Leôncio Correa, entre tantosd outros. Seu”gabinete de trabalho”era a famosa Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, onde se reuniam os intelectuais para discutir sobretudo literatura e política.Viveu 52 anos. Deixou trovas geniais, na sua maioria, de improviso, como esta proferida na casa de um amigo, após uma noite de muita bebida e boemia, quando recusou a canja que lhe ofertaram e pediu laranja:

A laranja é fruta fraca,
não sustenta como a canja.
Mas, em dia de ressaca,
até Deus chupa laranja.

E, disparava trovas satíricas, como esta dedicada a um “Dom Juan” de prestígio na roda literária que frequentava:

Este foi um dos completos
sem nunca sair dos trilhos,
pois foi pai dos próprios netos,
foi avô dos próprios filhos.

Os políticos foram “vítimas” das trovas circunstanciais que EMÍLO DE MENEZES compôs, como Barbosa Lima, de compleição física mirrada, pequeno, magro, muito branco e de barbas:

Feio, fúnebre e funéreo,
sempre de luto fechado,
parece um feto barbado
saído do cemitério.

Nem o grande Rui Barbosa escapou da língua e do improviso do Poeta. Quando Rui protestava, no Senado, contra os seus opositores à sua candidatura à Presidência da República (que o rotulavam como “um velho cansado, incapaz de dirigir os destinos da nação”), afirmando estar em pleno vigor físico, com dinamismo, EMÍLIO fuzilou o “Águia de Haia”:

Ao ouvir-lhe a gabolice
Maria Augusta se abrasa:
– Se tem tanto quanto disse,
por que não o exibe em casa?

Entretanto, a sua maior criatividade em trovas, foi demonstrada quando escreveu epitáfios (composições para serem colocadas em túmulos) como esses:

A terra, que tudo come,
disse ao vê-lo, agastadiça:
-Retirem essa carniça
que injuria a minha fome.

Morreu depois de uma sova,
e como não tinha campa,
de uma orelha fez a cova,
e de outra fez a campa.

E, compondo em profusão,assim viveu o grande EMÍLIO DE MENEZES, e, como uma brilhante estrela fugidia, brilhou e partiu na madrugada.
Ave, EMÍLIO DE MENEZES !

  • Emílio Nunes Correia de Menezes (1866-1918)