Através da memória compreendemos o passado
É sabido que o Patrimônio Histórico faz parte da identidade de uma sociedade, quanto suas características, costumes, seu comportamento, além de ser um registro fundamental para seus sucessores.
Existe uma crescente preocupação entre alguns pesquisadores, historiadores, empresas, instituições e simpatizantes sobre a questão da Preservação da Memória e Patrimônio Histórico. Essa discussão pode ser apreendida através de debates, simpósios, fóruns, grupos de discussões, além de uma vasta gama de livros, artigos e outros materiais que levantam a importância do assunto. Esta preocupação está relacionada aos danos causados a memória e identidade histórica que conserva certas informações para que o passado não seja completamente esquecido.
A importância da Preservação do Patrimônio Histórico pode ser associada a memória coletiva e individual, pois é através da memória que nos orientamos para compreender o passado, o comportamento de um determinado grupo social, cidade e nação.
Segundo dados obtidos por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, a preocupação em preservar nossa identidade histórica e cultural surge no início do século XX , onde as primeiras medidas aprecem em 1936 com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, projeto criado por Mário de Andrade.
Ao lançar um olhar para o passado, é possível enxergar uma nova perspectiva que talvez nunca tenha sido observada. É a possiblidade de dar vozes àqueles que não a tem mais e a possibilidade de dar luz à caminhos antes escuros, sombreados pelo tempo e esquecimento. A busca por vestígios para a reconstrução de um passado tal qual ele foi, seria impossível, mas sim uma representação capaz de nos fazer perceber o quão importante ele foi e ainda é.
O filme cinematográfico existe há mais de 125 anos, o disco sonoro fará cento e cinquenta anos e o VHS completou meio século.
Parece pouco tempo, se considerarmos a evolução tecnológica da humanidade, da cultura oral aos registros em pedra, bronze, cerâmica, pergaminho e papel, mas hoje, graças ao desenvolvimento industrial, surgem a todo o momento, novas tecnologias de registro e reprodução de sons e imagens, que conferem aos documentos audiovisuais tradicionais (filmes, fotos, discos e fitas) feições de coisa antiga.
O que impressiona ainda mais é o fato de que as novíssimas tecnologias produzidas pela indústria de ponta do mundo globalizado, não resolvem a importante questão da durabilidade dos materiais.
Os mais recentes estudos sobre conservação sugerem uma postura cautelosa em relação às novidades tecnológicas.
Nunca haverá um documento resistente que dure para sempre.
O desejo de eternidade é um tema amplo e polêmico demais para o momento.
O avanço da ciência e da tecnologia no campo da comunicação eletrônica considera a necessidade de melhorar a estabilidade dos meios de comunicação audiovisuais. É certo que existem experiências acontecendo em laboratórios de testes, e sequer sabemos quais são os seus componentes ou até onde vai o compromisso com a preservação da memória.
Um levantamento recente apresenta uma triste realidade: Abelardo Barbosa, o Chacrinha, agitou a massa e comandou a festa durante 30 anos em que aparecera na TV. Mas, dos mais de 1815 programas que o velho Guerreiro animou, sobraram apenas 6 para contar a história.
Filmes, fitas e discos constituem bens culturais cuja guarda e conservação são mais dispendiosas e falta, em toda parte, apoio material e financeiro para assegurar sua permanência.
Se as condições de armazenagem não forem adequadas, os documentos audiovisuais se deterioram devido às reações químicas e a ação dos fungos e bactérias.
Os filmes, as fitas magnéticas e os discos exigem cuidados especiais para a sua preservação e necessitam permanecer em locais adequados para que a imagem não se desfaça.
Milhões de dólares foram investidos no desenvolvimento do DVD, que introduz um novo conceito em registros: não é cópia, é réplica, e já está obsoleto.
Toda fita, filme ou disco é um documento. Um filme que foi um fracasso de bilheteria, um filme super-8 amador, um disco rejeitado, todos servem como testemunho de instantes, épocas e exemplos do desenvolvimento da história.
Por isso a necessidade de se ter em todas as cidades uma instituição responsável com pessoas comprometidas em manter preservada a história de sua região, como exemplo um MIS (Museu da Imagem e do Som).
É muito importante a construção da identidade de um corpo social pois é fornecendo a ele conjuntos documentais racional e tecnicamente tratados e realizando uma boa divulgação desse material para a população que instituições de preservação poderão realizar seu papel de guardiãs da memória.
Adelson Cavalcante
Jornalista Mtb 56.011/sp
Presidente da AJOP