Proseando : Cachorrada
Fernando Cypriano ganhou o livro surpresa. Parabéns, Fernando! E você, também quer ganhar um prêmio surpresa? Então, decifre o nome da dona do Maltês. Dica: os números 22, 1, 14, 5, 19, 19, 1 associados ao alfabeto. Já sabe a resposta? Então, a envie ao WhatsApp 99735-0611. A primeira pessoa levará o prêmio.
O maltês assanhado se aproximou de minha poodle. O sem-vergonha pôs o focinho no traseiro dela e a cheirou várias vezes. Li que os cães fazem isso para coletarem dados do cheirado: gênero, estado emocional, dieta, idade e muito mais. Será mesmo? Para mim ele estava é com intenções pecaminosas. Por isso, tentei impedi-lo várias vezes com um “sai pra lá, tarado”, mas não consegui. Então, programei um chute, mas antes de executá-lo, ouvi:
— Achei você, Silvinho. Mamãe ficou preocupada.
Silvinho era o nome do maltês. Foi a loira quem disse. A loira do corpo esculpido por Michelangelo, dos seios fartos quase pulando o decote, da voz cheia de feitiço. Aproximou-se, agachou-se e encoleirou o cão.
— Linda a sua filhinha ¬— disse ela.
— Você é muito mais.
— Oi.
Achei meu atrevimento arriscado, pois talvez fosse comprometida e o sortudo, umhomem de levantar guindaste.
— Me desculpe. Não quis ser deselegante.
Ela me avaliou dos pés a cabeça, balançou os cabelos provocantemente, e sorriu.
— Me referi a sua poodle. Mas, olhando bem… Você não é de se jogar fora. Casado?
— De jeito nenhum – menti.
Havia deixado minha mulher falando sozinha em mais uma de suas incontáveis erupções, castigando nossosdez anos de sobrevivênciaconjugal. Nossos diálogos sempre viravam monólogos e eu a deixava para caminhar na orla do Leblon.
— Qual o nome da sua menininha?
Escolhi um nome digno do Silvinho.
— Sophia, com pê agá.
Conversamos por longos minutos, rimos, trocamos olhares insinuantes. Ela pediu no quiosque papel e caneta, anotou o número do telefone e me deu.
— Não trago meu Apple na praia. Tenho medo.
— Eu, não. Nenhum vagabundo me furta. Hoje saí apressado e esqueci o Apple. (Menti, outra vez. O meu era xingling).
— Me liga. Quem sabe jantamose esticamos a noite.
Ela se foi. Meu coração foi com ela. Fiquei um tempo admirando o mar, rejuvenescido.Havia esquecido que tinha esposa até abrir a porta do apartamento. Ela estava na cozinha, conversando com alguém.Da sala não pude ver quem era. Estiquei os ouvidos.
— …Tem razão. A última vez que nos vimos foi na formatura da faculdade. Vinte e tantos anos passados. Me casei, mudei pro Rio e perdemos contato. Como me achou?
— Foi a Marildinha que me deu seu endereço.
— Marildinha pega-pega?
— Essa mesma. (Risos) Deixa te contar. Conheci um cara muito interessante.Charmoso. Bom papo. Tem uma poodle linda.
— Também tenho uma. Seu cãozinho vai gostar de conhecer a Meleca. A propósito, você ainda não me disse o nome do seu maltês.
Senti o hálito da mortequando ouvi:
— Silvinho.