História : Carnavais na Pinda de outros séculos
Nossa página de história relembra nesta edição antigos carnavais de Pindamonhangaba. Tendo como bases notas carnavalescas publicadas em edições dos jornais Tribuna do Norte e Folha do Norte (periódico local extinto em 1930), recordaremos alguma coisa das folias carnavalescas realizadas neste município nos anos 1926 e 1941. Completando, na seção “Lembranças Literárias”, um soneto, de autor não identificado, faz refência a um carnaval ainda mais antigo, o de 1911.
Carnaval de 1926
Em sua edição de 21/2/1926, há 93 anos, a Folha do Norte brindava seus leitores com uma das criações poéticas do ilustre filólogo e escritor pindamonhangabense, Lauro Silva: “O carnaval de 1926”. Eram agradáveis oitilhas por intermédio das quais o professor poeta descrevia como fora aquele carnaval. Logo na primeira estrofe, ressaltava aquilo que todo folião e principalmente o cidadão que vai às ruas para assistir ao espetáculo espera: tempo bom… (sem chuvas)
O tempo benevolente
Nos três dias se mostrou,
E assim em nada ofuscou
O brilho do carnaval;
E o povo pindense, as festa
Consagradas à folia
Nesse tríduo de alegria
Foi, com pompa celebrar.
Com o tempo “benevolente”, divertidas batalhas, ou “prélios”, de confete e serpentina haviam sido travadas entre os carnavalescos em seus “carros mui sobressalentes”…
Nossas ruas percorreram
Carros mui sobressalentes,
Cujas galas imponentes
Muito a festa realçavam;
E os grupos carnavalescos
Que nesses carros se viam
Com denodo combatiam
Nos prélios que se travavam.
Eram atrações os fantasiados em série, os bandos; os ranchos carnavalescos, que nada mais eram que blocos carnavalesco ou grupo de foliões que percorriam as ruas dançando e cantando em coro as músicas mais populares do carnaval, ou a marcha característica do grupo, geralmente levando estandartes alegóricos.
Por sua elegância e garbo,
D’ ”Os enfermeiros” o bando,
Dentre os mais se salientando,
Aplausos fartos colheu;
Eo rancho d’”As Colombinas”,
Que outrossim se apresentou
E a folia se abrilhantou,
Também louvor mereceu.
No referente às músicas que animavam os festejos carnavalescos, destacava-se naquele tempo o sentimentalismo do “chorinho” arrancando aplausos da multidão…
Que o “chorinho” d’ “Os Bemóis”
Logrou êxito é notório ,
Pois seu belo repertório
A todos maravilhou.
Quanto ao “Bloco do Tatu”,
Também se exibiu “na ponta”,
Com bons elementos conta,
E mil palmas conquistou.
Os cinemas da cidade não eram só locais para exibição de fitas, seus salões serviam também de clubes para os animados foliões. Nos versos abaixo, ao referir se à poeira o autor revela os incômodos de um centro urbano ainda não urbanizado pelo asfalto, pelo concreto. Na mesma estrofe uma referência a um conjunto que teria se destacado pelo talento de seus músicos, o Jazz Band do Éden Cinema (foto abaixo)…
E nos cinemas, à noite,
Foi ruidosa a brincadeira
(À parte o calor e a poeira,
Que estavam de sufocar.)
O “jazz” as peças em voga
Tocava com maestria.
E cada vez mais crescia
O entusiasmo popular.
Entre as canções carnavalescas, uma citação à marchinha de um cidadão de origem espanhola que deve – mui justamente – ser lembrado como um dos mais produtivos cidadãos pindamonhangabenses, o Agostinho San Martin. Entre seus inúmeros talentos havia o pendor para a música, integrava também a hoje quase bicentenária Corporação Musical Euterpe…
Ouviam-se, eletrizantes,
As mais xistosas canções,
Que alegram tanto os foliões
Em tempo festivo assim;
Não sei qual mais se apreciou,
Se a “Taiova”, se a Zizinha”,
Se a “Lili” ou se a marchinha
Do maestro San Martin.
Em sua poética narrativa, Lauro Silva assim concluí o que fora aquele carnaval de 1926…
Mas, como tudo é *fugace,
E como tudo tem fim,
O tríduo ruidoso, assim,
Fulgente veio… e passou!
E lá se foi com o tempo,
Que de avançar não se cansa,
E a todos, como lembrança,
Uma saudade deixou!
(*fugaz)
Carnaval de 1941
Comentar o carnaval de 1941 em Pindamonhangaba coube a Ignácio Romeiro, na edição de 2/3/ 1941 do jornal Tribuna do Norte. Inicialmente, o então colunista da TN, registrou suas impressões sobre o carnaval de rua. Falou dos foliões fantasiados de palhaços, “malandros de camisas listadas” e dos românticos pierrôs que desfilaram pelas “feericamente iluminadas” praças e vias. Destacou o “ronco da cuíca, o ruído dos pandeiros, o berro do saxofone e os estandartes”. Em seguida, poeticamente, contou sobre “as balizas se esparramando sobre os paralelepípedos” e dos blocos: “Flor do Abacate”, “Quem fala de nóis tem paixão”, “Princesa do Norte” e outros mais.
Pelos clubes, citou uma entidade recreativa denominada Princesa do Norte como sendo o clube do Adolfinho. “Aos homens e à senhoras, o Adolfinho distribuiu muita alegria; às crianças, como um ‘papai noel do carnaval’, ele ofereceu guaranás, doces e balas.” A decoração também é comentada, destacando os escudos colocados nos postes de iluminação do salão, homenageando as instituições da cidade.
Ainda pelos clubes são mencionou os bailes carnavalescos que a Associação Atlética Ferroviária oferecera aos associados “sob a batuta do infalível ‘Planica’”; os animadissimos bailes do 9 de Julho, um clube de operários de Pindamonhangaba; a decoração do Clube Literário, “a cargo de ‘Pinguim’ e sua turma”, falou de dona Anita e sua marcha e também do ‘bloco dos turcos’.
Comentando os bailes do Literário, o articulista da Tribuna do Norte destacou “a filhinha do major Florêncio José Carneiro Monteiro e a sobrinha do senhor Carlos Asseburg” que, segundo ele, “pareciam duas bonecas a enganar a gente que eram baianas…”
Concluindo seu artigo, Ignacio Romeiro colocou o carnaval de 1941 em Pindamonhangaba como: “incontestavelmente o melhor do Vale do Paraíba”. Fato, segundo o articulista, confirmado pelas pessoas que também estiveram apreciando o carnaval em cidades vizinhas e reforçado pelo “nhô Totico, que passara por aqui em seu automóvel e por um senhor que comentara no bar do Tininho que Pinda tivera o melhor carnaval da Central do Brasil”.