Vanguarda Literária : CORA CORALINA: UMA LIÇÃO DE SABEDORIA
Estudiosos de Teoria Literária afirmam que a boa Literatura, na maioria das vezes, é um processo vivencial, somente exequível após muita experiência e amadurecimento. É exatamente isso o que acontece com o mundo literário de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bredas, por nós conhecida como CORA CORALINA, que nasceu na Cidade de Goiás em 1889 e faleceu em Goiânia em1985. Seu primeiro livro: ”Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais” foi publicado aos 76 anos de idade, e, ela, com certeza, passaria despercebida no cenário cultural brasileiro se os seus escritos não tivessem caido nas mãos generosas de um autor consagrado chamado Carlos Drummond de Andrade, que a tirou do anonimato. Fico a meditar: qual fatos levam um cientista, um pensador, um escritor se tornar conhecido e que motivos conduzem outros para o anonimato? Sem dúvida, perde a humanidade ao não ter a oportunidade de presenciar o fulgor de estrelas que se extinguiram. Por sorte, CORA CORALINA teve reconhecimento nacional ao receber o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano (em 1989) concedido pela União Brasileira de Escritores. A grande poetisa e contista goiana publicou, entre outras obras: “As Cocadas” (literatura infantil), “Meu Livro de Cordel”, “Estórias da Casa da Ponte” e “Vintém de Cobre – meias confissões de Aninha”, obra escrita em forma de poesia narrativa, livro no qual ela recorre a seu passado e redescobre um tempo perdido. Apreciemos esta beleza de pérola literária neste pequeno trecho: “Que procura você, Aninha? Que força a fez despedaçar as correntes de afeto e trazê-la de volta às pedras lapidares do passado? Sozinha, sem medo, vinte e sete anos já passados… Meu vintém perdido, meu vintém de felicidade, capacidade maior de ser eu mesma, minha afirmação constante”.
A literatura extraordinária de CORA CORALINA fascina e emociona pela simplicidade grandiosa e pela observação extremamente aguda de um ser humano sofrido e vivido. Em “Vintém de cobre”, ela é dura com a rudeza da escola e do mundo cruel dos adultos que se fazem surdos à voz inocente e sábia das crianças. Bem – aventurada CORA CORALINA, que, como diz, São Mateus em seu Evangelho: “Os que se assemelham às crianças merecem o reino do céu!”
Alguém já pensou como essa mulher extraordinária, embriagada de poesia, encara a figura do POETA? Reflitamos no que ela diz: ”Poeta é ser ambicioso, insatisfeito, procurando no jogo das palavras, no imprevisto do texto, atingir a perfeição inalcançável. O autêntico sabe que jamais chegará ao Prêmio Nobel. O medíocre se acha sempre perto dele”. Mulher forte, arraigada ao cotidiano, nos ensinou: “O saber se aprende com os mestres. A sabedoria só com o corriqueiro da vida; o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”. Mulher de fortes palavras que marcou o seu tempo a nos mostrar que quando priorizamos a mensagem e não a forma, nos elevamos e caminhamos em direção ao divino.