História : Crônicas da Pindamonhangaba de antigamente
Relembrando alguma coisa da Pindamonhangaba antiga com uma breve descrição (artigo publicado na Tribuna de 1943) sobre o pitoresco centro desta “cidade princesa” no final do século XIX
É da edição de 18 de julho de 1943, deste jornal, o artigo de Lellis Vieira, então colaborador da Tribuna do Norte, já morando e trabalhando na capital paulista, onde ocupava o cargo de diretor do Departamento de Arquivo do Estado.
Relatando lembranças de quando viera viver em Pindamonhangaba, Lellis Vieira, empregado no comércio que também fora, descreve alguma coisa da, como diria a saudosa escritora Eloyna Salgado Ribeiro, “vida nos balcões da pequena Pindamonhangaba…”
“Conheço Pinda desde 1893, quando aí trabalhei no comércio: farmácia do Custódio de Paula Queiroz, laboratório de um vinho chamado ‘Molarinho’, cujos rótulos eubordava com uma caligrafia bem bonita; casa de calçado de Antônio Bracarense Salgado, onde vendia botinas de elásticos a 15$000 o par, daquelas bem ringideirase sapatos mais finos ‘de entrada baixa’ como se dizia, a 20$000, sem calçadeira, que não existia nesse tempo. Era na unha…”
Prossegue Lellis relembrando o que já eram “coisas da Pinda antiga” naqueles anos quarentas em que viviam… “Depois e por fim, fui vender açúcar mascavo no armazém do Luiz Guimarães; carregar tinas de bacalhau da estação para o depósito, mantas de carne seca, résteas de cebola e caixões de cerveja ‘Pá’, ‘Mainz’, queijo do reino, barril de vinho vendidoaos ‘martelos’, cal que o velho Cornélio Lessa comprava muito para as suas construções; e, às quintas-feiras, passeio com gravata de lacinho no belíssimo (então…) jardim do Paraíba, o Botafogo pindense”.
Sobre a vida cultural daquele final de século XIX, assim recorda o antigo articulista e colaborador da Tribuna… “À noite, teatro com a Luiza Leonardo, o Matos, o Peixoto, representando-se o ‘Periquito’ pela Amélia Lopícolo, de calção… naquele tempo um perigo, o ‘Dom Cesar de Bazan’, e aqui Lellis sendo que os camarotes não tinham cadeiras. A gente que frequentava os espetáculos tinha de mandar as cadeiras de palhinha, conduzidas na cabeça dos petizes…”
Prosseguindo, Lellis Vieira destaca que se Pindamonhangaba contava, na época, com 238 anos, fazia 50 que ele conhecia “…essa linda terra acolhedora”. E confessa: “Devo ter saudades desse meio século de adolescência e tenho deveras uma certa amizade por esse rincão civilizado”.
Revela que ao chegar à capital havia enfrentado trabalhos árduos; fizera progressos, estudara o que fora possível e com grandes mestres e que de caixeiro passara a guarda-livros. Sobre suas conquistas na cidade grande até faz o seguinte e bem humorado comentário, “diz a Faculdade Americana da Virgínia e outras universidades do mundo que sou ‘doutor’ (de rite) ‘in honoris causa’ e mais títulos honoríficos de sapiência provinciana”.
Como forma de provar o seu amor pela “cidade princesa” ele assim encerra: “Seja como for, gosto imensamente de Pinda, e não pretendo mudar de hemisfério (o outro mundo) sem um ‘repouso virgiliano’ numa chacarazinha solitária e cheia de canários…”