Vanguarda Literária : DESEJO X VONTADE: UMA VISÃO FILOSÓFICA
A filosofia nos ensina que desejo é uma força que se dirige a um fim o qual é considerado, pela pessoa que a contém, uma fonte de satisfação que pode ser consciente/inconsciente ou reprimida. Por outro lado, a vontade é a capacidade fantástica de querer, de, com liberdade, praticar ou deixar de praticar uma ação sob o comando da razão. Dessa maneira, é preciso querer para transformar algo em vontade. Em suma: desejo é necessidade instintiva do corpo e a vontade é uma decisão deliberada, representativa da ação vigorosa e determinante da mente sobre o corpo.
Em relação a essa dualidade: DESEJO X VONTADE vem à lembrança a poesia maravilhosa da mineira de Divinópolis – Adélia Prado, poetisa, filósofa e contista de elevados méritos, autora de “Coração Disparado”, quando escreveu: ”Eu não quero a faca e o queijo. Quero a fome”. Ao refletirmos no que diz a poetisa, verificamos que a fome é o desejo, algo instintivo, uma vez que comemos quando estamos com fome para satisfazer a necessidade do nosso organismo. Por que desejamos algo? Certamente porque aquilo parece ser muito bom para nós, e a sua falta nos faz sofrer terrivelmente. E, não sem razão, o filósofo Spinoza (1632-1677) nascido em Amsterdam, um dos grandes nomes do racionalismo do século XVII, ao lado de Descartes e Leibnitz, na sua obra
“ÉTICA”, nos diz que “Não é porque uma coisa é boa que a desejamos, mas, porque a desejamos ela parece ser boa”. O desejo, para ele, é a verdadeira essência do homem. No entanto, ao dizer: ”Eu quero a fome”, estou indo além, certamente querendo comer com apetite, longe da impulsividade do desejo, que, muitas vezes, se abate sobre nós, por força do nosso inconsciente avassalador.
Ao tentar tornar claro esse binômio DESEJO X VONTADE, vamos entender que as paixões marcadoras, atuantes nas nossas juventudes, são expressões maiores do nosso desejo, dessa falta, dessa ausência que origina sofrimento, enquanto o amor é o dar-se, atender, cuidar. No nível mais profundo, está a vontade que se torna cada vez mais escassa em nós, plenos desejos (por medos, carências, etc.) nessa sociedade instantanea, desumana, consumista dos tempos atuais em que vivemos.