Nossa Terra Nossa Gente : DOS “BAÚS DAS BOAS LEMBRANÇAS” DOS SAN MARTIN PARA A EUTERPE
No aniversário de 197 anos da Euterpe, convido o leitor para fazer um tour pela Pindamonhangaba das primeiras décadas do século passado, no tempo em que viveram o pai e os tios de Júlia San Martin Boaventura–Agostinho San Martin Filho, saxofonista; Nicolau Alonso Martins, violinista; Henrique San Martin, pianista e compositor; João José San Martin, flautista -, notáveis músicos das alvoradas da gloriosa banda, dos desfiles e procissões, das retretas na Praça da Cascata lotada de crianças brincando, jovens a flertar, adultos conversando como uma grande família ecurtindo a cadência das marchinhas, valsas e dobrados…
Os irmãos San Martin, mesmo com seus compromissos profissionais, participavam ativamente da Euterpe, tanto de ensaios e apresentações quanto na composição de ritmos variados!
Em agosto de 2022, após décadas da presença dos irmãos músicos na bicentenária banda, eis que a “nonagenária menina” Júlia encontra nos seus “baús das boas lembranças”as partituras das músicas compostas pelos tios e, imbuída de amorosidade, fez desse tesouro um presente à sua “Fiel Depositária”.
Em seu discurso no Teatro Galpão, Júlia San Martin Boaventura assim pronunciou:
“Boa noite a todos! A todos que amam a MÚSICA, pois se aqui estão é porque a música faz em seus corações o mesmo que faz no meu.
Hoje, aqui. Unidos. Nesta casa aconchegante, estamos para apreciarmos a beleza e a harmonia da MÚSICA. A nós trazidas por esta Banda Euterpe que há quase duas centenas de anos nos encanta.
Como todos sabem, eu, Júlia, tenho carinho particular e profundo para com a Banda Euterpe. Também sabem, pois já lhes contei essa história, que três dos meus tios queridos, meu pai e minha mãe, ela como cantora, participaram da Banda Euterpe.
Esses meus tios eram também reconhecidos compositores, e suas músicas ecoaram muitas vezes nas festas e apresentações, não só da Banda Euterpe.
São lindas essas músicas, imbuídas da alegria, dos sonhos e emoções dos que as criaram.
Por um tempo, a correria da “Vida Moderna” as manteve nos “baús das boas lembranças”, porém, hoje, as libertamos, já amarelecidas. Terão nova oportunidade de alegrar e encantar corações. Deixarão sua última morada para despertarem, em suas mãos hábeis, Maestro Marcos, suas melodias.
Aqui estão Maestro, algumas dessas relíquias que compõem a história dos MÚSICOS SAN MARTIN de Pindamonhangaba. Agradeço imensamente o carinho de todos vocês!!”.
O Maestro Marcos Roberto de Souza, após o divertido e aplaudidíssimo discurso, recebeu as partituras das mãos de Dona Julia e prometeu-lhe estudá-las e executá-las: Encosta… mas não me aperte… Maxixe carnavalesco, música de Henrique San Martin e Letra de Jercy Jacob; Amor de Rajah – foxtrote, de Henrique San Martin; Invocação – valsa lenta, de Henrique San Martin; Jazzmania – foxtrote, de Henrique San Martin; Tango da Saudade – música de Henrique San Martin, letra de Orfeu; Canção de Amor – foxtrote, de Henrique San Martin; Sofrimento – valsa serenata, de Henrique San Martin; Paixão de Violeiro – cateretê à moda paulista, de Nicolau Alonso Martin; Lêta – valsa, de João José San Martin.
Enquanto aguardo essa apresentação histórica, fico a imaginar o momento em que Henrique, Nicolau e João compuseram cada uma dessas peças e, sobretudo, o que cada uma delas falará aos corações dos pindamonhangabenses do nosso tempo…
Antes, posso afirmar que dos “Baús das Boas Lembranças” de Júlia San Martin Boaventura, além das partituras musicais, encontro nas dobras do torvelinho do tempo uma centelha da história dos irmãos San Martin-que se eternizaram na Princesa do Norte pelo imensurável amor que cultivaram pela Música e pela Musa Lírica Pindamonhangabense!