Nossa Terra Nossa Gente : ELOYNA SALGADO RIBEIRO, 100 ANOS!
Pindamonhangaba está em festa! No dia 1º de dezembro celebra-se o centenário de nascimento de Eloyna Salgado Ribeiro (1917 – 1999). De presente, a inesquecível Dona Eloyna deixou manuscrito num caderno de capa dura parte de seu quinto livro, intitulado “Apenas lembranças” e, para complementar seus registros, depoimentos orais ditados por ela para um gravador de voz.
Ao seu filho Luiz Salgado Ribeiro coube mais do que a tarefa de juntar essas partes e de acrescentar depoimentos de parentes e amigos. A ele foi dada a chave que abre a janela da memória dessa pindamonhangabense amiga de toda gente, professora de escola de roça, esposa do líder ruralista Manoel César Ribeiro, mãe de 9 filhos e, nas horas vagas, trovadora, poetisa, escritora.
Seus primeiros trabalhos publicados foram assinados com o pseudônimo “Nicinha” e enviados em 1937 para o Correio Universal do Rio de Janeiro. Em 1953 passou a colaborar com a Rádio Difusora de Pindamonhangaba: primeiro com crônicas para o “Momento Romântico” e, no período de 1954 a 1961, com poesias sertanejas para o programa “Canta Sertão”, assinadas por uma tal “Suzana”, que promovia com seus versos, brincadeiras com pessoas da cidade e críticas contra as injustiças sociais que aniquilavam o trabalhador rural.
As trovas, os poemas, os contos e as crônicas de sua autoria ganharam outros cenários nos concursos literários brasileiros e, graças aos prêmios a eles outorgados com distinção e louvor, findou-se o anonimato da escritora Eloyna Salgado Ribeirocom as publicações de seus trabalhos em antologias, revistas, jornais e livros de sua autoria: O Último Caboclo (1983), A Vida nos Balcões da Pequena Pindamonhangaba (1997), Fundo de Gaveta (1998) e Historinhas da Vovó (2003).
A leitura minuciosa da obra de Eloyna Salgado Ribeiro me tomou o coração por inteiro! Foi amor à primeira lida. Apaixonei-me pelos seus escritos e, graças a eles, vislumbrei uma Pindamonhangaba que só a geração dela poderia nos revelar mas só ela foi capaz de encantar-nos com a poesia que deriva da memória de sua Infância e da rua General Júlio Salgado, registradas no livro Nossas Ruas (1993).
Apenas lembranças (2017) anuncia a surpresa que nossa tão estimada memorialista oferece à nossa terra e à nossa gente no primeiro centenário de seu nascimento! Essa obra póstuma faz-me recordar o poema de Eduardo Galeano e, nos seus versos dela, entrevejo a janela da memória que se abre na casa de Eloyna Salgado Ribeiro. Através dela, poderemos vislumbraro fulgor da luz de seus olhos a cintilar como estrelas no céu de sua terra natal!
A luz das estrelas mortas viaja,
e pelo voo do seu fulgor, nós as vemos vivas.
A viola, que não esquece quem foi seu companheiro,
soa sem que seja tocada por mão alguma.
Viaja a voz, que sem a boca continua.
(in As Palavras Andantes/1994)
Nossa gratidão ao seu filho Luiz Salgado Ribeiro! No labor de suas mãos, o sonho de Eloyna ganha corpo e capa; nas entrelinhas de suas páginas,“viaja a voz que sem a boca continua.”