Entre livros e letras: narrativa da vida real
“Sentado na varanda de casa vejo o horizonte pela janela. É curioso o quanto a gente facilmente esquece nossa trajetória no decorrer dos dias em que passamos ocupados. Normalmente paramos para pensar no quanto e como caminhamos quando algo ruim nos assola: a saúde fraca, a morte de um ente querido, a perda de um emprego. Falar sobre nós não é uma tarefa das mais fáceis, pode parecer presunçoso, um pouco egocentrista, mas colocar no papel parte da sua trajetória pode ser um ótimo exercício de gratidão! Sou grato por todos os momentos que me trouxeram até aqui. Tanto aqueles em que me fizeram perder o chão, como aqueles que me impulsionaram para aquilo que eu ansiava mesmo sem ter tanta certeza. Costumo dizer que a vida se encarrega de dar a direção se você estiver com o coração aberto. Como escreveu Michelle Obama em sua recente biografia: sua história é o que você tem, o que sempre terá. É algo para se orgulhar.
Sou editor de livros, trabalho em uma importante editora. Uma das maiores do mundo. Eu me descobri em meio às palavras, na oportunidade de encontrar novas histórias, autores e pessoas com quem posso aprender diariamente. Coordeno um selo responsável por milhares de livros vendidos e autores nas principais listas dos mais vendidos do País. Se me contassem que um dia eu seria um editor de livros, que conheceria tantas pessoas que admiro, jamais acreditaria. Mas se eu faço um link com todas as minhas escolhas, consigo juntar as peças do quebra-cabeça. As horas na biblioteca do Bosque da Princesa… As histórias que escrevia no quintal de minha tia, as peças na igreja, a faculdade de jornalismo, o emprego na livraria, um blog sobre livros, o “Esqueça Um Livro”. De alguma forma nossas escolhas vão se aglomerando como uma constelação de estrelas.
Nasci em Pindamonhangaba, em 1983, mesmo ano em que surgia o Voyage 4 portas, a Rede Manchete fazia sua primeira transmissão, a novela ‘Guerra dos Sexos’ tornava-se um fenômeno no País e o meu primeiro gradiente virava o brinquedo mais desejado pelas crianças. Alguns quilômetros dali, além do oceano, era lançado o “Livro do desassossego”, uma das mais célebres obras de Fernando Pessoa. Talvez por isso eu tenha nascido com tamanha inquietação.
Cursei jornalismo na Universidade de Taubaté. Escrevi para vários veículos, sem grande sucesso. Certo dia, já bastante angustiado, um amigo me chamou para ir até São Paulo ‘tentar a sorte’. Caminhamos dias e dias no centro da cidade procurando por qualquer plaquinha que dissesse “emprego”. Foram tempos difíceis. Com o dinheiro contado. Mas a vontade de fazer a vida acontecer era enorme… . Lembro de entrar em uma grande livraria, daquelas oponentes, que brilham aos olhos, e pensar que se fosse para trabalhar fora da minha área de formação, que fosse com os livros que tanto amava. Algum tempo depois me tornava livreiro. Junto com o trabalho passei a escrever em um blog sobre livros. Por conta dos textos e das resenhas que escrevia conheci uma leitora do blog, que por acaso trabalhava em uma grande editora. Pedi para que assim que surgisse uma oportunidade ela me chamasse para uma entrevista. Um tempo depois consegui uma vaga como assistente de marketing e senti que ali poderia ter um lindo caminho para trilhar. Virei analista, coordenador, criei o Departamento de Livros Digitais (e-books), comecei a buscar novos autores, até migrar para o editorial, cuidando de um selo que ajudei a construir. Paralelo a isso, mantive um projeto pessoal, o “Esqueça Um Livro”, que ganhou bastante visibilidade. O projeto, baseado no conceito bookcrossing, consistia em esquecer livros para novos leitores em locais públicos. Com ele, inaugurei estantes fixas para troca de livros, bibliotecas e recebi o título de “Uma das razões para amar São Paulo” pela revista Época. Não sei o que o futuro me reserva, assim como ninguém sabe. O que sei é que tento abraçar todas as oportunidades que a vida me oferece com um sorriso no rosto. Está bem! Nem sempre com um sorriso no rosto, mas com a certeza de que seguir o chamado do coração faz toda a diferença. A gente vai construindo a nossa história e é importante não se esquecer de aproveitar a jornada. Senão, a gente adoece. A gente sente que tudo foi em vão.
Eu me chamo Felipe Brandão.
Tenho 36 anos e este foi o
“Inspire-se” de hoje.
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