Vanguarda Literária : ESCRITA FILOSÓFICA X ESCRITA POÉTICA
Existe um conceito geral o qual nos diz que o filósofo é um pensador que escreve e o poeta é um escritor que pensa. Sabemos que o filósofo pauta o seu pensamento na procura da verdade, no terreno da validação teórica, incluindo, no seu afazer a lógica essencial da argumentação, a compreensão e a descrição analítica. Ambos (o poeta e o filósofo) utilizam uma das mais importantes ferramentas que é a PALAVRA.
ÍTALO CALVINO (1923-1985), um dos mais importantes escritores italianos do século XX, escreveu no seu livro: “Assunto Encerrado” que , “a palavra, como cristais, tem faces e eixos rotação com propriedades diferentes, e a luz refrange diferentemente conforme a maneira como esses cristais – palavras estão orientamos de acordo como as lâminas polarizantes são cortadas e sobrepostas. A escrita é por demais valiosa e essencial aos filósofos no aclareamento e desempenho do seu trabalho de reflexão como meio para expressão clara correta e agradável do pensamento”. O “Filósofo – Escrevente” como pontuou o filósofo FOUCAULT comporta-se como estilista de ideias, preocupado com a organização consistente das mesmas. Sabemos que o que prevalece é a condição de o filósofo, em trabalho reflexivo, criar e problematizar ideias, entretanto, sem dúvidas, ao utilizar a ferramenta da palavra, irá compor proposições, formular conceitos com sentido, e desvelar respostas. Assim, chegamos ao entendimento de que os “cristais- palavras” , na filosofia , estão direcionados ao esclarecimento .
O poeta, tanto quanto o filósofo, quer dizer algo, sua escrita também é por demais valiosa. Suas ideias encontram- se dependentes da escrita “forte”, expressiva, na qual reside o primado da composição da palavra e das frases. Aqui, contempla- se a força fenomenal das imagens, visto que o trabalho poético encontra- se recheado de imagens e de sons. Diferentemente do escrever filosófico, não vamos observar a preocupação angustiante da argumentação nem de proposições que se encontra ,com certeza, no mundo dos filósofos. Entendemos também que o poeta tem a sua “Verdade” , que não reside nas conclusões de proposições, e sim, no brilho e na lucidez das imagens.
Não podemos esquecer daqueles poetas com expressão filosófica como o poeta Fernando Pessoa, para quem o “Poema” representa a projeção de uma idia em palavras,´através da emoção. Ela, possivelmente, constitui- se no motivo da poesia em si, e, o ardor da palavra torna- se o material, por excelência, do afazer poético. A pujança das palavras exprimem a emoção do poeta. Há nesse ser especial o excelso domínio da palavra e do ritmo, sendo esse único a qualificação essencial, capital, para diferir o escrever poético do escrever filosófico. O ritmo significa a arquitetura das palavras, das imagens, das metáforas. Se o filósofo submete as palavras ao mundo da problematização, dos enunciados e das teorias, o poeta, ao burilar as mesmas, delira na beleza das imagens!