Estrada de Ferro Campos do Jordão, Futuro Incerto

A Estrada de Ferro Campos do Jordão ainda continua com seu futuro incerto. O processo iniciado 17/06/2021, com o Chamamento Público 2-2021 Aprofundamento dos Estudos do Projeto de Concessão, ainda está em andamento, no entanto, não há uma data prevista para encerramento, ou seja, para a retomada dos trabalhos com vista à sua completa revitalização.

Quanto mais o processo demora, mais angustiante é a expectativa dos moradores de Pindamonhangaba, assim como de turistas e principalmente dos funcionários, que sentem mais perdas de mão de obra, em função do concurso público da Prefeitura Municipal de Pindamonhangaba.

Vale lembrar que a Estrada de Ferro Campos do Jordão vem sofrendo perdas constantes de mão de obra. A exemplo de 1º de maio de 2022, quando cerca de 30 servidores tiveram seus contratos de trabalho rescindidos, após aderirem o Plano de Demissão Incentivada do Governo do Estado.

Nos últimos anos a Estrada de Ferro Campos do Jordão, tem registrados muitas perdas…
Perda de prédio
Em 05 de setembro de 2006 a Estrada de Ferro Campos do Jordão, soube através do Diário Oficial do Estado de Saulo (Decreto 51.090) que havia perdido, em definitivo, o prédio que abrigara o Núcleo de Ensino Ferroviário. Foi um choque para os funcionários, terem conhecimento através do jornal que o prédio havia sido transferido à Secretaria de Segurança Pública. O Governo nem ligou pedindo as chaves…

Perda do Parque Capivari

Em dezembro de 2017 o Governo Estadual divulga o processo de concessão para o Parque turístico do Capivari à inciativa privada por um período de 30 anos, prorrogáveis por mais 5 anos. Juntamente com o Parque, o vencedor da concessão administraria também o teleférico – principal fonte de renda da EFCJ. Na verdade o grande chamariz da concessão. Em 14 de junho de 2019 foi assinado contrato do Governo do Estado de São Paulo com a empresa Eco Jordão, concessionária administradora do Parque Capivari.

Perda das lideranças

Depois de discutir por cerca de quase quatro anos, uma decisão do Tribunal de Contas do Estado, a EFCJ se viu obrigada a demitir (e destituir dos cargos em confiança) 26 empregados em agosto de 2019. Isso porque, de acordo com a ADI – Ação de Inconstitucionalidade, a forma de contratação e nomeação destes servidores estava em desacordo com a legislação vigente. Embora a EFCJ tenha contratado e designado de acordo com a Lei Complementar 1.211/2013, a qual passou por todas as instância e foi aprovada pela Assembleia Legislativa.

Desde então os funcionários da EFCJ trabalham sem liderança nos setores, sem a figura do líder que conduz, corrige, ajuda, encoraja a equipe a desenvolver a melhoria continua, tanto no pensamento quanto nas ações. Sem contar que, além de oferecer apoio, o líder tem ainda a responsabilidade de transmitir conhecimento e confiança aos liderados.

Novas perdas

Como já deve ser do conhecimento de muitos, em 2020 o Governo designa uma comissão pra estudar a viabilidade de toda a EFCJ. A Comissão intitulada como CAP – Comitê de Análise Preliminar, foi aprovado pelos Conselheiros da proposta protocolada pela Iniciativa Privada na Plataforma Digital de Parcerias, conforme Ata da 16ª Reunião Conjunta Ordinária, concernente à 252ª Reunião Ordinária do Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização publicado no Diário Oficial de 09 de outubro de 2020, que teve como pauta a concessão da Estrada de Ferro Campos do Jordão.
Na reunião do dia 29 de março de 2021, o grupo apresentou o resultado dos estudos, afirmando ser viável ao Governo de Estado, e, ao interesse privado, um processo concessão da Ferrovia.

Perda do escritório central

De posse da informação de uma possível concessão de toda a Ferrovia, a Prefeitura Municipal de Pindamonhangaba, entrou com o um processo pedindo o tombamento do principal prédio da Ferrovia, no centro de cidade. Prédio que abrigou o escritório central da EFCJ até 2016, quando o mesmo foi desocupado para reforma, não concluída até hoje.

De acordo com o Decreto 5.975 de 03/05/2021, foram tombados “por seu valor arquitetônico, histórico e cultural a sede administrativa e a oficina da EFCJ”. Portanto além do prédio central, também foram tombados dois setores que cuidam da manutenção predial e operacional da Ferrovia, a Marcenaria e a Mecânica.

Diante de tantos acontecimentos, os ferroviários da EFCJ e a população de Pindamonhangaba perguntam: qual será o futuro reservado à nossa querida e histórica Estrada de Ferro Campos do Jordão?

Adelson Cavalcante
Jornalista Mtb 56.011/sp
Presidente da AJOP

Na época dos Trens

Texto: Jornalista
Aércio Muassab

Antigamente para se viajar de Pindamonhangaba a outras cidades e região, e principalmente a São Paulo, era somente por trem. Assim foi até, aproximadamente, os anos 1960. Portanto, quem tem de 80 anos para mais lembra perfeitamente.

Por experiência própria, cito que em 1956, meu pai assumiu o cargo de despachante em Guaratinguetá (única cidade que emitia carteira de motorista de Pinda até fundo do vale). Assim, mudamos para lá, e eu fui trabalhar com ele. Nos fins de semana eu vinha para Pinda afim de jogar bola e ficar com os amigos. E…. então…. Bem, a viagem era de trem. Não tinha ônibus.

Os trens de passageiros eram o Expressinho e o Rápido, que tinham suas 1ª e 2ª classes, as quais vinham lotadas, com passageiros se espremendo em pé, lógico. A diferença de uma classe para outra era no assento e, claro, no preço.

Para São Paulo, então, era um sufoco viajar, pois entrando no trem aqui em Pinda, normalmente ficando em pé, pois não tinha lugar para se sentar, e isso só iria acontecer se alguém descesse numa das cidades antes da Capital, assim mesmo disputando o banco com outras pessoas.

Existiam também os trens de carga, que passavam no horário regular na Estação, parando somente para casos necessários. Tinha um destes, cujo nome era Bacurau.

Posteriormente foi criado o Trem de Aço. Este era chique, estilo europeu, com assentos de primeira e até um vagão restaurante. Este trem saía do Rio de Janeiro com destino a São Paulo direto. Parava apenas em uma cidade Fluminense, depois em Aparecida (por ser a Cidade Santa) e em Pinda (por causa de Campos do Jordão) e seguia para São Paulo.

Mas o preço, hum! Hum! Era pouco acessível, mas para quem tinha condições financeiras era ótimo. Pois viajava superconfortável sentado em poltronas e, além disso, se quisesse comer ou beber alguma coisa era só se dirigir ao restaurante. E, ao voltar, sentar novamente em seu lugar. Assim, valia a pena, já que parecia um passeio.

Depois vieram os ônibus e tudo mudou. Agora, para São Paulo, vamos e voltamos no mesmo dia. Naquela época quem trabalhava na capital, para vir até o interior, era só mesmo em ocasiões especiais, ou um motivo forte.
É…. são passagens que ficam na memória.